por Camila Micheletti
Opções variadas é o que não falta quando o assunto é benefício para funcionários: dos já comuns ticket refeição, 14º salário e seguro de vida aos atraentes PLR – Participação nos Lucros e Resultados, auxílio-estudo e plano de previdência privada, o que vale é a satisfação do profissional com esse tipo de reconhecimento.
Mas, o que dizer da prática de oferecer empréstimo pessoal para os funcionários com taxas de juros relativamente menores do que as utilizadas nos bancos e financeiras? Até que ponto isso é um benefício, uma vez que há um “prejuízo” na hora de devolver o dinheiro? Será que as empresas estão se comportando como bancos?
Tudo indica que não. “O crédito pessoal pode ser encarado sim como benefício, por trabalhar com taxas de juros abaixo do mercado, mas ainda assim o funcionário deve pensar bastante antes de pedir um empréstimo, já que estará criando uma dívida para pagar outra dívida”, explica Emanuel Gonçalves, consultor financeiro e autor do livro “Como negociar dívidas”, da Editora EGS.
Apesar da aparente vantagem para os funcionários, esse tipo de benefício requer muito cuidado por parte do profissional de Recursos Humanos. Isso porque do ponto de vista legal, se o processo não estiver bem fundamentado pode ser caracterizado como agiotagem, e o funcionário poderá inclusive reivindicar esses valores numa possível reclamação trabalhista. “O ideal é que a empresa faça um convênio com um banco, uma financeira ou uma cooperativa de crédito. Com isso, obtém respaldo legal para conceder empréstimos a juros e por ter vantagem no número de pessoas interessadas, consegue a redução nas taxas”, afirma Deise Neves Botelho Rezende, advogada especialista em Direito do Trabalho e especialista em Relações Trabalhistas do Empregos.com.br.
Emanuel Gonçalves recomenda que o profissional de RH prepare uma cartilha com dicas e informações úteis sobre crédito pessoal, mostrando ao funcionário como economizar e como organizar suas finanças, para evitar o pedido de empréstimo. “As pessoas precisam ter a consciência de que devem mudar seus hábitos, é preciso investir na cultura orçamentária do indivíduo e o RH tem muitos instrumentos para fazer isso”, afirma o consultor.
A Algar instituiu, há cerca de oito anos, uma cooperativa de crédito que, além de fornecer empréstimo, também funciona como fundo de investimentos. Pérsio Oliveira, especialista de Talentos Humanos da empresa, explica que foi constatado, através de pesquisas de clima organizacional, que a cooperativa é muito bem vista pelos funcionários. “Descobrimos que os funcionários vêem como benefício principal o convênio médico, em segundo lugar está o fundo integrativo, pelo qual a empresa disponibiliza recursos financeiros complementares à cobertura do plano de saúde e, em terceiro, a cooperativa. Hoje, mais da metade dos nossos colaboredores usam a cooperativa para recorrer a empréstimos”, afirma Pérsio.
Critérios
Ter direito a um empréstimo pessoal não é tão fácil quanto parece. Geralmente, as organizações impõem pré-requisitos. No caso da Algar, como se trata de uma cooperativa, que não tem vínculo algum com a empresa, antes de mais nada o funcionário precisa aderir à cooperativa e tornar-se um cooperado. Após três meses da data da adesão, ele já pode pedir o primeiro empréstimo. A taxa é de 2,5% ao mês mas, como se trata de uma cooperativa, entidade sem fins lucrativos, os juros são decrescentes. De acordo com Pérsio, os dois lados ganham com a iniciativa: a empresa, que tem funcionários mais tranquilos e motivados, e os próprios funcionários, que conseguem sanar suas dívidas de forma mais branda, sem ter que arcar com as taxas pesadas dos bancos, que normalmente giram entre 5 e 10%. “Outro diferencial é que o processo em si é muito mais rápido: o funcionário faz o pedido de empréstimo via Intranet, o RH recebe e analisa o formulário. Com o crédito aprovado, ele pode conseguir o dinheiro em menos de oito horas”, explica ele.
“A área de Recursos Humanos é a principal responsável pelas novas propostas de benefícios nas empresas, e isso inclui também os modelos de crédito pessoal, que sempre foi encarado como um benefício”. É o que afirma Cláudio Szajman, presidente do Grupo VR. A empresa lançou recentemente o CDVR, linha de crédito pessoal destinada aos funcionários das empresas conveniadas, que hoje, segundo Cláudio, são mais de 450. Neste caso, o contato ocorre entre o funcionário da empresa conveniada e o Grupo VR, não havendo ligação com a empresa em que o funcionário trabalha. “A grande vantagem é que a negociação do empréstimo é feita diretamente com o Grupo VR, e o funcionário tem o dinheiro debitado na sua folha de pagamento, ou seja, não há custo algum para a empresa”, diz Cláudio. A taxa de empréstimo é de 3,9% ao mês, mas isso também pode variar de empresa para empresa.
Para os profissionais de RH que desejarem implantar um programa de empréstimo pessoal na empresa, o consultor Emanuel Gonçalves aconselha entrar em contato com o Banco Central, que é a instituição que certifica e fiscaliza essas iniciativas. “Se for recorrer a uma financeira, o ideal é negociar a taxa de juros, que deve oscilar entre 2 a 3%, no máximo. Dependendo do tamanho da empresa e do número de funcionários, a organização tem poder de barganha para pedir juros ainda mais baixos”, ensina o consultor.
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