Carreiras | Empregos

Por Juliana Almeida Dutra*
 
O trabalho já foi considerado castigo divino, atribuído a Adão pelo pecado original, e também como meio de atingir as bênçãos de Deus. Conexo à riqueza e status, é fato indiscutível que o trabalho faz parte da vida social, mas qual sua importância na vida dos indivíduos? Seria ele o motivo de nossa existência? A palavra trabalho, derivada de tripalium, que no latim é o nome de um instrumento de tortura, pela definição atual do Aurélio significa “aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar um determinado objetivo”. As concepções do termo se diferenciam assim como pode o sentimento gerado por meio do trabalho. Se por um lado é sinônimo de realização, desafio e poder, não se deve esquecer que também pode significar tormento, angústia, pura sobrevivência.
É ignorância pensar que num país no qual cerca de 30% da população tem renda mensal de um salário e meio todas as pessoas exercem seus serviços a fim de obter realização e que em empresas nas quais a busca pelo lucro é objetivo único os funcionários têm plena qualidade de ambiente, tanto em condições físicas quanto psíquicas. Ações baseadas no endomarketing e na teoria de Dejours poderiam mudar o significado do trabalho para essas pessoas, de forma que percebessem aspectos positivos de suas ocupações e que pudessem exercê-las mais assertivamente.
“Trabalho, Logo Existo”
Essa frase serve perfeitamente à concepção de vitalidade exclusiva por meio do trabalho. As pessoas inseridas nesse raciocínio pensam o trabalho como única forma de exercer sua individualidade e acabam por nunca estarem satisfeitas no ambiente de trabalho de maneira completa. O trabalho não pode ser a única esfera de nossas vidas, pois o afeto e a socialização é uma necessidade inata ao ser humano, ainda que nos proporcione a construção da nossa identidade. Uma das facetas mais atuais do trabalho é o de provedor do exercício da liberdade, principalmente no que tange às mulheres e ao avanço do grupo feminino em direção à notoriedade no mercado de trabalho e à influência na sociedade. A conquista do emprego permitiu às mulheres independência econômica e força para obter o divórcio e cuidar de seus lares, tem permitido que atuem de forma nunca antes percebida.
Disputa Acirrada
No atual cenário contemporâneo, no qual a competitividade pressiona a empresa e essa, por sua vez, espreme seu colaborador na busca por melhores margens e pela própria continuidade, há fomento de um ambiente de trabalho pautado pela sobrevivência, muitas vezes a qualquer custo e não considerando a ética. Para garantir os resultados, as pessoas podem precisar escolher caminhos nos quais seus próprios valores morais são deturpados.Também existe a influência do ego contribuindo para a supervalorização do alcance do objetivo independente da forma tomada nessa busca, pois as pessoas querem ser notadas positivamente no trabalho, ainda que o reconhecimento positivo não inclua o caráter da conduta pessoal. Além de confrontar e por em xeque os valores das pessoas, esse contexto profissional incita a valorização e admiração das pessoas a partir do material como se a individualidade não fosse válida se não há contrapartida econômica. As pessoas são transformadas em objetos de alcance de resultado, e a perda do cuidado para com o lado humano gera desconforto, podendo ainda causar doenças do trabalho.
O trabalho, que é inicialmente uma fonte de realização e prazer, passa novamente a ser gerador de sofrimento e o funcionário não mais exerce sua função pela motivação de alcance de resultados, mas pela necessidade de sobrevivência. Isso desencadeia um ciclo vicioso onde a pessoa entra com prazer, sai sofrendo e sente-se frustrado cada vez que isso acontece. E não somente a inserção numa nova empresa, mas muitas vezes quando se troca de chefe ou quando surge um novo projeto o processo cíclico pode ser iniciado.
E o Estresse?
Segundo o Instituto Ráshuah do Brasil, podemos mencionar três fatores capazes de desencadear o estresse: alto padrão de exigência, medo e frustração. Por essa lógica, o ambiente gerado pela competitividade extremada é perfeitamente propício ao surgimento desse mal, onde o alto padrão de exigência pode ser relacionado à cobrança por resultados, ao medo elencamos o aspecto da sobrevivência e o sofrimento gerado no trabalho gera sentimento de frustração.
Mas o estresse também está relacionado ao histórico e propensão de cada pessoa, por isso é necessário considerar cada contexto no aspecto profissional versuspessoal e a relação com as “torneiras do estresse”. Essas “torneiras” são as formas como liberamos o estresse e como contrabalanceamos nossa vida: suporte social, o lazer, o amor, o sexo e mesmo o sono. O alto nível de estresse tende a bloquear nosso escape de forma que a revisão da estrutura individual – percepções e sentimentos do sujeito, informação armazenada – referencial do indivíduo, e a interação dinâmica desses quesitos com o meio é requerida para a modelagem das atividades no serviço, buscando o fator original do trabalho e propiciador de prazer.
Atuação Profissional
O trabalho impulsiona o desejo de construção dos jovens e alimenta as memórias de um aposentado. A questão aqui é que o trabalho é a forma pela qual o homem se faz agente da história e conduz sua realidade. Permeando diversas das fases de nossa vida, o trabalho é parte integrante do que somos, afinal nossa personalidade, crenças e valores influenciam o modo como atuamos profissionalmente assim como as experiências de trabalho modificam nossa maneira de pensar e ser.
O trabalho não é a razão de existirmos, mas é o jeito como a maioria de nós se faz memorável. Se Einstein revolucionou a Física no século passado e Walt Disney criou sonhos pelo processo por qual transformamos o nosso meio – o trabalho, por que não podemos incitar mudanças ao nosso redor e trabalhar no sentido dado pelo dicionário: para o alcance de objetivos. Dessa forma temos nele não o sacrifício, mas um aliado à conquista da sociedade.
*Juliana Almeida Dutra é diretora da Deep – Desenvolvimento e Envolvimento Estratégico de Pessoas, consultora em Gestão de Talentos e especialista em Marketing e Relacionamento com Clientes. www.deepessoas.com.br

Avalie:

Comentários 0 comentário

Os comentários estão desativados.