Carreiras | Empregos

por Camila Micheletti
Quais serão as profissões de 2003? Não, nós não temos nenhuma bola de cristal, mas é possível prever, com base nos acontecimentos ocorridos no mercado, quais setores podem ser possíveis geradores de emprego e profissões que serão destaque a partir de agora. Algumas já são bem conhecidas de todos, como a de vendedor, e outras são profissões relativamente novas, como a de desenvolvedor de conteúdos para e-learning e editor de vídeo e cinema digital.
Na opinião de Laerte Cordeiro, Diretor-Presidente da Laerte Cordeiro Consultores em Recursos Humanos, que publica uma pesquisa mensal sobre o mercado de trabalho para executivos, a estimativa é de que o 1º semestre de 2003, principalmente no 2º trimestre, ocorra um aquecimento no mercado de trabalho para executivos. “Na crise ou na euforia, os profissionais de marketing e vendas devem continuar a ser os mais procurados, entendendo-se, porém, que o déficit a ser compensado, para a volta do equilíbrio organizacional das empresas, deverá trazer um aumento da oferta de empregos para os executivos de todas as áreas de atuação”, considera o diretor.
Principalmente na área da Grande São Paulo, Laerte explica que as empresas de serviços deverão crescer em número, qualificação e atividade, buscando mais executivos para seus quadros, ainda que a Indústria seja a maior recrutadora. O Comércio deve continuar sua busca de melhoria de qualidade gerencial e os Bancos não deverão ser recrutadores significativos, pelo menos por enquanto.
Mas, por mais que o Brasil tenha um ano bom, nem todos os profissionais terão garantia de emprego. Para Iracema Dias de Araújo Andrade, diretora da consultoria Andrade e Naufal, o desemprego pode acontecer justamente para os profissionais mais qualificados, que estão acima da média do mercado. “A tendência é essas pessoas abrirem um negócio próprio ou atuarem como consultoras”. Iracema afirma que as áreas que envolvem a criação, segmentação de produtos e inteligência devem manter o potencial de crescimento, enquanto que as profissões mais burocráticas devem entrar em definitivo processo de extinção.
Frederico Eigenheer, Diretor-Presidente da Eigenheer Recursos Humanos, acredita na valorização do profissional de Recursos Humanos. “As prováveis mudanças na CLT, a mudança de postura perante os sindicatos, a consolidação da gestão do conhecimento e o advento do e-learning requerem um novo perfil profissional. Quem não se atualizar estará fora do mercado para sempre”, assegura ele. Da mesma forma, Eigenheer acredita que devem estar em alta em 2003 os profissionais de marketing e relações públicas, que serão muito requisitados pelos novos políticos detentores do poder, além de pessoas ligadas ao desenvolvimento de novos produtos e gerência da qualidade.
Sobre uma questão todos os consultores e especialistas ouvidos peloEmpregos.com.br concordam: cada vez mais, os profissionais vão atuar como empreendedores, seja no próprio empreendimento ou como funcionários, fazendo a diferença dentro da empresa em que trabalham. “A queda do nível de contratações nos faz inventar maneiras criativas de ganhar dinheiro, e nesse sentido nós brasileiros, que somos empreendedores por natureza, levamos muita vantagem em relação aos outros países”, comenta Matilde Berna, gerente de Career Transitions da Right-Saad Fellipelli. Para Frederico Eigenheer, “o país só vai crescer se a sociedade for o motor e buscar desenvolvimento, com profissionais empreendedores que saibam desenvolver outras atividades e não tenham medo do desconhecido”, afirma ele.
O empreendedorismo não é ensinado, nem pela família, nem pela escola. “O fato de você ver as coisas por ângulos novos, ser pró-ativo e trazer resultados deveria ser ensinado já no segundo grau. Algumas faculdades fazem isso trazendo as organizações para dentro da sala de aula, com as empresas juniores e estágios”, explica Matilde.
Confira a seguir algumas áreas em ascensão e as profissões relacionadas:
Tecnologia
Apesar do desaquecimento do setor, que já vem ocorrendo desde 2001, as possibilidades de crescimento do setor de Tecnologia da Informação são muito grandes. De acordo com Marcelo Pessôa, professor do Departamento de Engenharia de Produção da Fundação Vanzolini, as áreas quentes concentram-se principalmente na produção e exportação de softwares e na produção de programas para o ensino virtual – o e-learning.
Para conquistar a posição de fornecedor internacional, o setor precisa receber mais apoio governamental. “Atualmente, o Brasil nem aparece nas estatísticas dos produtores, e o software nacional não é conhecido e nem possui respeitabilidade lá fora. É uma imagem que precisa ser construída. A tecnologia para software muda todos os dias; precisamos ter coerência para uma atuação de longo prazo. Para isto são necessários investimentos em educação (a maioria dos brasileiros não tem acesso ao ensino superior), apoio às exportações e, principalmente, linhas de crédito para desenvolvimento e produção”, afirma o professor.
Para Pessôa, o Brasil tem chances de competir com os principais exportadores de software. “Hoje, somos exportadores de mão-de-obra especializada para os países produtores. Em 2000, a Índia exportou US$ 6 bilhões, enquanto o Brasil conseguiu exportar apenas US$ 200 milhões. Se tivéssemos maiores investimentos no setor e o engajamento e integração das universidades com os centros de pesquisa, teríamos mais condições de manter esses profissionais no País”, considera ele.
O avanço da Web fez com que várias outras áreas também apresentassem demanda de crescimento. Um bom exemplo é a área de segurança da informação, que se tornou um atributo indispensável nas relações virtuais, seja em casa ou nas empresas.
De acordo com João Dalla, gerente de marketing da Telecon, centro de treinamento e profissionalização de profissionais de TI, a procura por profissionais especializados em assegurar as informações das empresas deve crescer 40% em 2003. Segundo dados do IDC, o setor deve atingir um faturamento mundial de US$ 14 bilhões em 2006, um incremento de 237% em relação a 2001.
“Os profissionais de segurança passaram a ter importância vital na composição das organizações. Consequentemente, elas procuram atrair essa mão-de-obra com bons salários, que se iniciam em torno de R$ 3 mil”, explica Dalla. Segundo ele, a demanda cresceu com os fatos ocorridos nos últimos anos, como a criação de vírus devastadores e o ataque das torres gêmeas do WTC. O primeiro cargo a ser exercido na carreira é o de “Security Officer”, que pode chegar a diretor de TI. O Security Officer tem como responsabilidade definir as políticas de segurança da empresa, além de definir e implantar tecnologias e coibir os crimes virtuais.
Internet e Multimídia
Na opinião de Maria Alice Augusto, mestra em Educação e coordenadora de Educação Corporativa da Unisa Digital, da Universidade Santo Amaro, as profissões relacionadas à Internet ainda mantêm um alto potencial de crescimento, mesmo após a crise mundial que fechou várias empresas pontocom pelo mundo afora. O avanço do e-learning nas empresas e escolas demanda uma gama de profissionais de várias áreas que possam organizar e produzir os programas, como pedagogia, psicologia, webdesign, entre outros. “São pessoas que aprenderam a fazer as coisas na prática, porque ainda não há curso específico para isso. A tendência é crescer ainda mais e passar a exigir profissionalização”, afirma.
Há ainda demanda para outros profissionais, que atuem com arquitetura da informação, construção de games, produção de conteúdo online e vídeo digital.
Direito
Uma área que com certeza vai colher os frutos dos avanços da internet é a de Direito, já que o meio virtual também precisa estar baseado em leis e normas. Segundo Mary Elbe Queiroz, mestre e doutora em Direito Tributário, consultora tributária do Sebrae Nacional e presidente do Instituto Pernambucano de Estudos Tributários, a grande dúvida em relação às relações virtuais está no fato de que é muito difícil ter provas concretas do que se faz. Se a Internet ainda é muito recente, as leis onde ela deve estar baseada são apenas projeto.
Segundo Mary, a questão do direito na internet envolve várias facetas, que vão desde apurar os crimes virtuais até analisar contratos de compra e venda, a questão tributária e ainda fazer a análise das provas. “Como provar que determinada pessoa fez uma transação comercial ou passou um e-mail? E em uma negociação entre países, quem regulamenta isso?”, pergunta.
“A mudança do governo abre muitas possibilidades para os advogados, que terão que lidar com um novo Código Civil – previsto para entrar em vigor em 11 de janeiro – que infelizmente ainda fala muito pouco sobre as leis na Internet”, afirma Mary.
Qualidade de vida
Sem dúvida 2002 foi o ano da qualidade de vida e da saúde no trabalho. Construir um ambiente saudável tornou-se questão prioritária para empresas e profissionais de todos os setores. Nesse sentido, a carreira do higienista ocupacional apresenta grandes possibilidades de crescimento. Este profissional, que surgiu na década de 70 mas ainda é pouco conhecido no Brasil, é responsável pelo controle do ambiente de trabalho na empresa, oferecendo soluções para que a saúde do profissional não seja comprometida.
O profissional faz uma análise sobre o ambiente, elabora um laudo e aponta o que deve ser feito. Na maioria dos casos, os problemas são calor ou frio em excesso, ruídos, pó e insalubridade. “A atuação deste profissional integra-se à do médico e do engenheiro do trabalho e é fundamental em algumas empresas, como as indústrias, que apresentam um risco de acidentes muito alto”, afirma Claudio Luiz Souza Silva, gerente corporativo do Senac/SP, uma das poucas entidades que tem um curso de especialização de higienistas ocupacionais. A maior demanda, segundo ele, está nas indústrias química, farmacêutica, metalúrgica, siderúrgica, além de hospitais e estabelecimentos comerciais – nestes, a atuação é mais focada na manutenção dos ares-condicionados.
Claudio, do Senac, explica que o profissional que quiser atuar com higiene ocupacional precisa ter, acima de tudo, uma visão sistêmica – ou seja, saber enxergar as coisas de uma forma ampla e não apenas o problema em si. “Além disso, ele deve estar preparado para trabalhar com pessoas especializadas em outras áreas relacionadas à saúde do trabalho e deve ter um sólido conhecimento em Física, Química e Biologia”, considera ele.
Para saber mais sobre o campo de atuação e o perfil do higienista ocupacional, acesse o site da Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais.
Vendas e Atendimento ao consumidor
Que empresa não quer ter um processo logístico eficiente, com cadastros de produtos que permitam a automação dos processos logísticos e de reposição, e o gerenciamento por categorias, que agiliza a gestão dos diversos produtos da empresa e gera uma melhor satisfação do consumidor?
Estes são alguns objetivos do ECR, movimento global que surgiu com empresas de alimentação, mas hoje já se vê em organizações dos mais variados segmentos, como as indústrias automobilística, têxtil, eletro-eletrônica, construção, e siderúrgica.
A função de gerente ou gerenciador de categorias hoje é comum em várias empresas. Ambev, Coca-Cola, Coop, Gillette, Colgate, Nestlé, Sadia, Unilever e Pão de Açúcar têm pelo menos um gerenciador por categorias (embora a maioria delas tenha um ou mais gerentes para cada categoria em que atuam).
Ainda não existe formação específica para o cargo, mas existem cursos especiais (como os cursos da Associação ECR Brasil) para apresentar a metodologia, e capacitar os profissionais a aplicar e gerenciar a ferramenta, que melhora o atendimento ao consumidor e, conseqüentemente, aumenta as vendas.
Outra função diretamente ligado ao atendimento ao consumidor e muito em alta no mercado é a de ombudsman. Hoje em dia quase toda grande empresa tem um ombudsman, profissional que atua na prevenção e solução de conflitos junto aos clientes, resolvendo problemas que não estão na alçada do SAC – serviço de atendimento ao consumidor. De acordo com Vera Lúcia Ramos, diretora administrativa e financeira da ABO – Associação Brasileira de Ouvidores e responsável pela ouvidoria no Procon, o número de profissionais no Brasil vem aumentando consideravelmente desde 1995. “Segundo estatísticas da ABO, já somos mil profissionais, sendo que em 95 não passava de meia dúzia. O potencial ainda é muito forte, porque toda empresa que valoriza o cliente precisa investir no ouvidor. Ele é a ponte entre a empresa e o cliente e é responsável por atender os consumidores em seu último nível, repassando as reclamações para a presidência da empresa”, explica ela.
O trabalho do ombudsman (ou ouvidor, termo usado pelas empresas públicas) está integrado ao do SAC, mas são trabalhos bem diferentes. “O SAC responde questões repetitivas e de rotina, já o ombudsman responde às questões mais profundas, sugerindo mudanças para que a empresa melhore o serviço e aperfeiçoe o produto”, afirma Vera. O profissional deve estar preparado para lidar com situações de conflito diariamente, ser pró-ativo, ter muita paciência e um ótimo trâmite interno, para estabelecer parcerias e se comunicar com todos os níveis da empresa.
Para Iracema Andrade, diretora da Andrade e Naufal, atualmente a área de vendas requer um novo perfil de profissional. Além de vender, ele é responsável por prestar consultoria sobre o produto ou serviço oferecido. “É um profissional com visão global, mas que ao mesmo tempo tem seu trabalho direcionado em um objetivo. O vendedor ideal tem ainda muita habilidade de negociação e uma postura profissional diferenciada, incluindo a vestimenta”, explica ela.
Terceiro Setor
Marcelo Pessôa, da Fundação Vanzolini, afirma que o terceiro setor hoje está mais profissional do que nunca. “A fase do assistencialismo já passou. Há muita coisa para ser feita, e com certeza a demanda por profissionais qualificados só tende a aumentar”, acredita.
Esta é a mesma opinião de Judi Cavalcante, diretor-executivo adjunto do GIFE – Grupo de Institutos Fundações e Empresas. “Os profissionais precisam ficar atentos e entender a lógica do setor, que vai muito além das ONGs”. Judi explica que o terceiro setor engloba ainda fundações e institutos de origem empresarial e familiar, ações comunitárias (que podem ser feitas pela população ou por associações, como o Rotary Internacional), associações filantrópicas puras, como a Igreja, e movimentos sociais, geralmente realizados por organizações de bairro.
Criado em 1995, o GIFE é uma associação civil sem fins lucrativos que reúne empresas, institutos ou fundações privadas que operam ou viabilizam, com aporte de recursos próprios, projetos sociais em áreas relevantes do desenvolvimento, como educação, saúde, cultura e meio ambiente.
Apesar de ser uma área relativamente nova, algumas escolas e institutos já oferecem cursos de especialização em Terceiro Setor, como a Rede GIFE, USP,FGV, entre outros. De acordo com nota publicada em outubro de 2002 pelo jornal Gazeta Mercantil, o setor movimenta anualmente cerca de R$ 12 bilhões, emprega 1,2 milhão de pessoas e atrai cerca de 1,5 milhão de voluntários. Há mais de 250 mil instituições no Brasil formadas por ONGs.
Agribusiness
Com a expectativa de alcançar a marca de 106 milhões de toneladas na colheita da safra 2002/2003, a agricultura brasileira tem tudo para ser um potencial gerador de empregos neste ano. A conquista de novos mercados internacionais já permite prever para 2003 um crescimento de 15% no superávit da balança comercial do agronegócio, em relação a 2002, quando o saldo do comércio exterior do setor foi de US$ 21 bilhões. Isso significa que em 2003 o saldo da balança comercial do agronegócio poderá chegar US$ 24 bilhões, o maior de toda a história da agricultura brasileira.
O presidente da Sociedade Rural Brasileira, João Sampaio, explica que esse crescimento pode gerar procura por profissionais que trabalham direta ou indiretamente com a agricultura. “Como estamos esperando um nível recorde de exportações, os profissionais da área de comércio exterior e logística serão muito valorizados. Da mesma forma, pessoas que atuam com gestão financeira também terão destaque”, afirma ele. Atualmente, o forte da produção agrícola no Brasil concentra-se nos estados de São Paulo, Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul.

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