Por Gutemberg B. de Macedo
A promoção de um profissional a novas posições, por mais que as organizações se esforcem para torná-la racional, equânime e transparente, não raro, se torna uma grande incógnita para muitos colaboradores. Daí a indagação comumente feita por muitos indivíduos “por que ele e não eu?”
A bem da verdade, cada promoção tem um ritual distinto e próprio. Portanto, assim como não há duas avaliações iguais em seu conteúdo, não há também uma promoção cujo conjunto de tópicos avaliados seja idêntico. Os superiores imediatos avaliam seus subordinados com base em critérios distintos, específicos e individuais. Adicione-se a esses critérios, as preferências pessoais.
Essa peculiaridade, geralmente ignorada pela maioria dos profissionais, torna a promoção um evento quase que mitológico ou fantasioso – “a promoção depende da sorte.” Em outra circunstância, ela é atribuída à proteção ou favorecimento do chefe, ao jogo político, ao desempenho passado, entre tantos outros motivos.
Independentemente das justificativas apresentadas, a verdade é uma só: raros são os profissionais que verdadeiramente dedicam tempo à observação, pesquisa, estudo, discussão e avaliação sobre o que distingue “os chamados dos escolhidos”. E, como não fazem a lição de casa, na maioria das vezes, eles não vão a lugar nenhum.
Empreender uma carreira de sucesso não é apenas ocupar posições de destaque em corporações renomadas. É sabido que inúmeros profissionais reverenciados como bem-sucedidos não empreenderam verdadeiramente uma carreira.
Afinal, quem são os escolhidos? Quais são as características dominantes de sua personalidade? O que eles têm de tão diferente? Como eles se comportam no dia-a-dia de suas organizações? Como trabalham e se relacionam com as pessoas? Como se mantêm atualizados em seu campo de trabalho e à frente de seus principais concorrentes? Como conduzem as reuniões de negócio? Como fazem apresentações para a cúpula de suas empresas? Que tipo de relacionamento cultivam com os higher-ups? Que nível de desempenho apresentam? Como se conduzem junto a clientes, fornecedores e credores? Que tipo de atividade comunitária desenvolvem?
Estas e centenas de outras perguntas devem ser feitas sobre “os escolhidos”, se verdadeiramente desejamos encontrar um “critério” ou “padrão” que facilite o nosso entendimento sobre a promoção. Afinal, não devemos conduzir uma carreira com base em achismos.
À luz de meus estudos, leituras, pesquisas e experiência adquirida na condução de projetos de aconselhamento a altos executivos, atrevo-me a lhe apresentar, caro leitor, algumas distinções que expressam de maneira inequívoca a singularidade dos “escolhidos”.
Vejamos algumas dessas particularidades:
Primeiro – Eles fazem a própria sorte e a promovem em benefício próprio. Trabalham duro. Desafiam com frequência o pensamento convencional de sua organização e época. Empreendem seu trabalho com paixão genuína. Abrem-se para novas oportunidades que surgem ao longo de seu caminho ou as criam. Observam com atenção tudo o que acontece ao seu redor. Interagem com o maior número de pessoas e sabem transformar esses encontros em interações positivas e construtivas.
Gosto muito das palavras pronunciadas pelo primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Winston Churchill, no Autho’s Club de Londres em 17 de fevereiro de 1908 sobre as pessoas de sorte: “As pessoas de sorte no mundo – as únicas pessoas de sorte no mundo para mim – são aquelas cujo trabalho é também um prazer. Esta classe não é muita.”
Vale acrescentar às palavras de Winston Churchill, o comentário feito pela professora de empreendedorismo da Universidade Stanford e escritora norte-americana Tina Lynn Seelig: “Fazer a própria sorte significa transformar situações ruins em boas, e tornar as situações boas em melhores. Nós aumentamos dramaticamente as chances de termos sorte quando nos expomos às mais diversas experiências, recombinando audaciosamente esses aprendizados e destemidamente batalhando por chegar ao palco onde queremos dirigir a nossa vida.”
Segundo – Eles nunca desperdiçam uma oportunidade de se tornarem incríveis. Tenho observado que a maioria dos profissionais prefere uma situação conhecida, favorável, cômoda e que não exige grandes esforços ou mudanças substanciais. Isto é, eles preferem o status quo, a previsibilidade e a falsa segurança.
Recentemente, recebi em meu escritório um executivo demitido de uma importante empresa multinacional após 25 anos de trabalho ininterruptos na mesma organização. Após ouvir sua longa história profissional e os motivos de sua demissão, perguntei-lhe sobre seus principais hábitos, especificamente, o de leitura. Não demorou muito para que ele se revelasse um profissional com ideias ultrapassadas e apegado às velhas regras corporativas – “Não cultivo o hábito da leitura.”Fiquei mais surpreso e irrequieto quando ele me disse que era um professor universitário. Afinal, que tipo de alunos educa?
Nesse instante, lembrei-me das palavras de Steve Forbes e John Prevas: “Quem realiza algo grande, algo extraordinário, seja nos negócios ou na política, com frequência o faz desafiando o pensamento convencional de sua época.” (Power, Ambition and Glory, 2009).
Já escrevi em artigos anteriores que nenhum profissional pode alcançar o sucesso em sua área de atuação, se destacar e se tornar fantástico na condução de seu trabalho sendo um conformista ou um homem de um livro só. O profissional que deseja “ser incrível” não pode se permitir imitar os outros ou comprimir seus pensamentos e ações em moldes vulgares e desgastados.
Caro leitor, as coisas que são verdadeiramente distintas acontecem na vida de um profissional quando ele está disposto a questionar a si mesmo e tudo aquilo que faz.
O conformismo não é inato e não está no DNA das pessoas. Ele é desenvolvido ao longo de anos. Creio que esse processo de lavagem cerebral comece no berço e continue nas escolas, nas faculdades e em muitas empresas que dizem: “Siga as regras”, “Faça o seu trabalho”, “Você não precisa pensar”. Muitos professores e executivos parecem determinados em incutir em seus alunos e colaboradores o desejo de alcançar a segurança acima de tudo – e a qualquer preço.
É preciso quebrar essa corrente que aprisiona os profissionais e os torna reféns das circunstâncias e de gestores inseguros, medrosos e medíocres.
Não custa lembrá-lo, estimado leitor, as palavras: “Oportunidades sem limites surgem da atitude de sair de sua zona de conforto, de estar disposto a falhar, ter um desprezo saudável pelo impossível e aproveitar cada chance que tiver de ser sensacional. Sim, essa postura trará caos para a sua vida e lhe tirará o sossego. Mas também o levará á lugares que você não poderia ter imaginado, e proverá lentes para enxergar problemas como oportunidades.”
Pergunta para sua reflexão: que conhecimentos, qualificações e competências singulares o preparam para que se torne um profissional escolhido?
Continuarei a discussão desse assunto nos próximos artigos.
*Gutemberg B. de Macêdo é colunista do Empregos.com.br, presidente da Gutemberg Consultores e autor de “Fui demitido. E agora?” (Maltese).
Carreira executiva – você está preparado?
Muitas são as questões que envolvem ou não uma promoção, mas é certo que ela depende de cada um.
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