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Bom dia, Preguiça! – a arte de fazer o menos possível em uma empresa
Autor: Corinne Maier
Editora: Campus
R$ 29,90 – preço sujeito à alteração. Consulte o site da editora.
Um manual de comportamento (e sabotagem) dirigido aos “gerentes de nível médio” das grandes corporações, que os ensina a tirar o máximo proveito da empresa sem trabalhar. Essa é a pretensão declarada de “Bom-dia, Preguiça! – a arte de fazer o menos possível na empresa”.
Os franceses definitivamente não perdem a mania de liberdade. Tudo bem, a rebeldia desta vez não vem de uma francesa, mas sim de uma psicanalista nascida em Genebra, radicada em Paris. Mas se a cultura se transmite menos pelos gens do que pelo meio, neste caso acaba dando na mesma. O espírito contestador está em cada página, e isto é autenticamente francês. Corinne Maier não nasceu na França, mas tem todos os seus cacoetes.
O vilão da obra é a corporação, ao modelo americano, e o público alvo são os “assalariados, neo-escravos, pobres-diabos da terceirização, suplentes do processo econômico, meus confrades guiados por chefinhos de ternos e servis, coagidos a se fantasiar de marionete a semana toda e a perder tempo em reuniões inúteis e seminários fajutos!”. Mas é capaz de divertir mesmo os que não tenham experimentado o trabalho nas grandes empresas: “Ela (a corporação) não gosta de você e não respeita os valores que defende, como atestam os escândalos financeiros que abundam atualmente e os plano sociais que não dão em nada!”
Nem por isso “Bom-dia, Preguiça!” representa concessão a ideologias anticapitalistas. Nem poderia ser (não no jeito francês de ser): “Apenas o regime comunista, muito falastrão, se mostrou mais prolixo em termos de língua do que a empresa. George Orwell, escritor visionário de 1984, foi o primeiro a entender que o jargão dos soviéticos não era como qualquer outro, risível e inofensivo, mas sim uma verdadeira metamorfose da língua em contato com uma ideologia. E totalitária a empresa é, de uma maneira soft, bem entendido; ela não pretende que o trabalho liberte (em alemão, Arbeit Macht frei, de negra memória), mas alguns hipócritas ousam afirmar tal coisa”.
A autora não faz concessões. Atira para todo lado (nem o La Defènse, centro comercial parisiense, sai ileso!). Convoca os leitores a “minarem silenciosamente e por dentro” as grandes corporações, valendo-se de estratagema que não pode ser enfrentado, o fingimento convincente: “… por que não sangrar, de dentro, o sistema? Imitem levemente o comportamento da gerência intermediária, ecoem seu vocabulário e gestual, sem, contudo, se ´comprometer`. Vocês não serão os primeiros: segundo uma recente pesquisa, 17% dos funcionários franceses estão ´ativamente desligados`de seu trabalho, o que significa que adotaram uma atitude tão pouco construtiva que cheira à sabotagem… Apenas 3% dos assalariados franceses ´se empenham em suas funções`, de acordo com a expressão consagrada, e se consideram ´ativamente envolvidos` em seu trabalho. Convenhamos que é muito pouco. (…) Adotar um comportamento de ´desligamento ativo` não acarretará problema algum para você, desde que seja de forma discreta. De toda maneira, os incompetentes e covardes à sua volta não notarão sua falta de entusiasmo. Tenha certeza de que, caso algum deles o perceba, não terá peito de dizer nada (…)”.
A obra, que não tem pretensões científicas, baseada na experiência corporativa da própria autora, não perde o fôlego do começo ao fim. A sinceridade politicamente incorreta da psicanalista é o melhor dos temperos do livro: “O dinheiro é a mola do trabalho, mas isso não deve ser dito, é um tabu. A empresa jamais o menciona, é vulgar; ela prefere os termos movimentação, resultado, salário, receita, orçamento, bônus e poupança, muitíssimo mais refinados. Um dia, cometi a ousadia de comentar, bem no meio de uma reunião sobre motivação, que eu só vinha ao escritório para esquentar a minha marmita: foram quinze segundos de silêncio absoluto, e todos assumiram um ar constrangido. Se a etimologia da palavra “trabalho” é um instrumento de tortura, é indispensável anunciar, em qualquer circunstância, que você trabalha porque-o-trabalho-o-motiva. Mesmo torturado durante horas por impiedosos carcereiros, você não dirá outra coisa”.
Há conselhos para quem quer sobreviver nas grandes corporações – desde entender que não é possível entender a língua das firulas praticada pelos executivos, até estratégias para parecer o mais inteligente – e também conselhos para quem quer se ver livre delas: “Como? Escolhendo profissões menos integradas ao jogo capitalista (artes, ciências, docência etc.), ou então se retirando parcialmente do mundo empresarial, dando a ele com elegância uma banana na despedida. Foi o que eu fiz”, confessa Corinne.
*Resenha elaborada por Mário Gonçalves Júnior, pós-graduado em Direito Processual Civil e Direito do Trabalho e advogado da Demarest e Almeida Advogados.

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