Carreiras | Empregos

por Luiz Scistowski*
Em um passado, pouco distante, a estabilidade no emprego era assegurada por alguns princípios básicos como a fidelidade e a dedicação. Bastava uma boa dose de humildade e de bons relacionamentos em uma empresa do tipo paternalista para que a ascensão chegasse naturalmente. Os sinais de progresso profissional eram claros e bem definidos e, em muitos casos, até mesmo quem se omitia ao trabalho, mas oferecia obediência, trilhava com certa facilidade o caminho em direção ao topo.

Porém, esta realidade pertence a uma época já há tempo ultrapassada. Para se fazer parte de uma organização moderna, é preciso ser mais que apenas qualificado. As habilidades de um profissional estarão sendo avaliadas a todos os momentos. Os salários são calculados, muitas vezes, tendo como base à produção e as competências particulares e não mais em relação a posições hierarquicamente pré-definidas. Nos dias de hoje, tornou-se necessário matar um boi todos os dias e antigas filosofias como fazer a fama e deitar na cama, agora, não passam de historinhas de contos de fadas.

Se analisarmos bem o atual cenário no campo do trabalho, podemos concluir que todos os empregos podem ser considerados como temporários. Uma infinidade de cargos que eram tidos como insubstituíveis, estão desaparecendo a todos os momentos. As instituições, muitas vezes, contratam já sabendo que o percurso do trabalhador será breve. Sem falar nas tendências em delegar tarefas a profissionais que não trabalham na empresa, como uma espécie de terceirização dos serviços internos. Nestes casos, os profissionais comercializam os seus talentos como consultores independentes e sem nenhum tipo de vínculo empregatício com as organizações.
As empresas modernas são muito dinâmicas e tudo isso vem reformulando radicalmente a relação empregado-empregador nesta virada de século. Frente a isso, o trabalhador moderno está sendo “obrigado” a assumir uma postura pró-ativa, ou seja, investir na administração da própria carreira.
Mas, afinal, como administrar uma carreira na era da informação?
Bem, primeiramente, vamos pensar um pouco sobre a estrutura de uma empresa. Dependendo do porte, podemos observar uma diversidade de setores que cuidam de assuntos específicos. Uns cuidam da criação e do desenvolvimento do(s) produto(s) no mercado, outros trabalham no sentido de formar um quadro de pessoal qualificado, outros, ainda, desenvolvem estratégias de abordagem de mercado e assim por diante. Todos os departamentos, somando forças dentro de suas especializações, trabalham em conjunto, sempre com o objetivo de aprimorar o desempenho da organização como um todo.
Do mesmo modo deve ocorrer com um profissional. Administrar a própria carreira significa perceber-se como uma empresa, ou seja, cuidar das suas atribuições como uma verdadeira organização o faz. Assim, você deve estar atento aos seus produtos, que são as suas prestações de serviços, desenvolver elaboradas estratégias de marketing pessoal visando lançar-se no mercado, enfim, se trabalhar estrategicamente em todos os aspectos no sentido de desenvolver um auto-aprimoramento.
Parece simples demais? É simples, mas não é nada fácil. Porém, qualquer pessoa é capaz de tomar a frente na gestão da própria carreira. Para isso, é preciso repensar alguns valores que todos nós herdamos de uma antiga geração formada por um modelo de trabalho paternalista e adotar uma nova postura, assumindo um comportamento voltado à auto-iniciativa.
Afinal, tornou-se vital para os trabalhadores contemporâneos estarem preparados e atentos a novos horizontes, não ficando presos a ultrapassadas e aparentemente seguras funções. Bem diferente do passado, quando os profissionais buscavam uma organização para trilhar um longo caminho repleto de generosas promoções e premiações, nos dias de hoje é preciso construir esta trajetória no mercado como um todo, que deve ser encarado como a única instituição para a qual o trabalhador atuará eternamente. Não existe mais um caminho pré-definido para a ascensão profissional. A empresa agora é o próprio trabalhador que passou a ser o único responsável pelo desenvolvimento da sua carreira.
Criar o seu próprio caminho significa
ver a si mesmo como sendo um
empresário independente.
É claro que ainda existe um significativo número de profissionais que desenvolve longas carreiras em uma única empresa. Contudo, mesmo para estes casos, é bom lembrar que os novos modelos de organização são muito flexíveis, os cargos se alteram rapidamente, ganham novos formatos, com outras demandas, e tudo isso traz também a esse tipo de trabalhador a necessidade de uma preocupação com um eterno aprimoramento. Caso contrário, estarão correndo um sério risco de perderem as suas posições, até mesmo, de um dia para outro. Assim, se você tem a pretensão de se manter vivo e competitivo no mercado de trabalho é preciso entender que, mais do que nunca, a sua trajetória depende do seu comprometimento com você.
Vamos, então, fazer um rápido teste: Pense um pouco sobre o que você tem feito pela sua carreira nestes últimos meses. Que tipos de investimentos foram por você efetuados que poderiam trazer algum tipo de beneficio direto à ela? Você vem sentindo necessidade de aprender mais no seu trabalho? O que, exatamente, você faria se fosse demitido amanhã?
Bem, as respostas para esse tipo de questionamento podem lhe dar indícios precisos do quanto você vem se implicando na manutenção da sua carreira, ou ainda, se o seu futuro como profissional está entregue à própria sorte. Se você tem problemas para responder as perguntas acima é porque está mais que na hora de entrar em ação. Vejamos, então, alguns princípios básicos que devem ser seguidos por aqueles que desejam administrar as suas próprias carreiras com maior sucesso:
Administre a sua carreira como se ela fosse, de fato, um negócio: Não deixe a sua carreira estagnar. Nunca se acomode diante de empregos que possam, aparentemente, oferecer certa dose de segurança. Procure estar sempre se reciclando e participando de diversas atividades que possibilitem abrir um leque maior de oportunidades. Assuma uma postura menos passiva e mais agressiva em relação ao mercado. Busque ser o melhor naquilo que você se propõe a fazer e nunca poupe esforços frente a um possível investimento em sua carreira. É importante estar sempre se questionando da seguinte forma: Até que ponto eu venho aprendendo com esse cargo? De que forma eu estou contribuindo com a minha organização? Poderia eu ser facilmente substituído? Em que projeto eu estou implicado no momento?
Invista no seu percurso como profissional: Não se dê por satisfeito se você for promovido a uma nova posição, mesmo que ela seja de alto nível. Lembre-se que qualquer cargo está sob profunda ameaça, podendo se tornar obsoleto e, até mesmo, desaparecer a todo instante. Sem falar na possibilidade de uma fusão ou de algum processo repentino de reengenharia, que pode acabar consumindo a sua função do dia para a noite. Atualmente, o que mais vale são as realizações profissionais, ou seja, a capacidade de executar, criar, inovar, solucionar, enfim, fazer acontecer e, não mais, o simples status proporcionado pela posição hierárquica ocupada por determinado profissional.
Esteja atento a diferentes tipos de trabalhos: Não basta apenas se implicar em novas e melhores oportunidades. É necessário, também, estar aberto a participações muitas vezes apenas por períodos temporários ou, até mesmo, em funções que estejam abaixo de suas atribuições e qualificações como profissional. É importante interagir ao máximo com o mercado, criando assim uma vasta lista de realizações. Nunca restrinja seus horizontes à apenas um determinado tipo de função específica e procure, sempre que possível, ampliar o seu universo de possibilidades em todos os sentidos.
Abra novos horizontes: Considere, também, a possibilidade de trabalhar em outras cidades, estados e, até mesmo, em diferentes países. É bom ressaltar que, atualmente, os executivos globais, ou seja, aqueles que interagem com diferentes tipos de culturas, estão em alta e são apontados pelos especialistas como sendo os profissionais mais cobiçados para atuarem frente a uma realidade comercial que não tem mais fronteira. Pontos como a versatilidade e a mobilidade estão sendo extremamente valorizadas como sendo um diferencial para o mercado.
Cuide de sua empregabilidade: Nos dias de hoje, o mais importante não é o simples fato de estar empregado e sim, tornar-se empregável, ou seja, ser eternamente útil ao mercado. De preferência, não pense mais em empregos; pense, agora, em projetos de vida. Invista em novas experiências profissionais, em uma bela formação acadêmica, em conhecimentos e informações de ponta e em tudo aquilo que pode, de algum modo, trazer benefícios diretos e indiretos ao avanço e ao crescimento de sua carreira, independentemente da empresa para a qual você trabalhe.
Desenvolva uma estratégia de marketing pessoal eficiente: Cuide de sua apresentação, crie e cultive um slogan profissional, uma sólida rede de relacionamentos, novas e melhores oportunidades, enfim, invista na administração da sua carreira utilizando o maior número de instrumentos que possam gerar a abertura de um caminho promissor e repleto de significativas conquistas pessoais e profissionais. E lembre-se sempre: Acima de tudo, não deixe de assumir um eterno comprometimento com você.
*Luiz Scistowski é psicólogo e consultor de treinamento.

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