Carreiras | Empregos

por Dulce Magalhães*
Recentemente li o depoimento de uma jovem administradora de 28 anos que me fez refletir. Vou reproduzir um trecho: “Na entrevista final, depois de uma agradável e produtiva conversa, o entrevistador foi sincero em dizer que eu era qualificada demais para a função pretendida. Ele achava que, provavelmente, eu não conseguiria ficar muito tempo na empresa, porque me sentiria desmotivada. Ele não imaginava que, depois de seis meses buscando um emprego, não haveria motivação maior do que estar ocupada. Mas não consegui o cargo”.
Isso nos mostra uma faceta do mercado que parece incoerente com a demanda por talentos. Contudo, ao fazermos uma análise da situação, percebemos que a lógica que rege as relações de trabalho tem o formato de um quebra-cabeça, onde as peças têm que se encaixar com perfeição ao conjunto.
Peças maiores, mais coloridas, mesmo mais bonitas, não servirão num desenho que exija um formato diferente do delas. É preciso buscar o quebra-cabeça adequado às peças que temos nas mãos. Isso significa que temos que competir no nível para o qual nos preparamos. Nenhum campeonato vai aceitar um competidor adulto numa prova de juvenis.
A questão é que algumas vezes nos encontramos no meio do salto, naquele espaço entre um passo e outro, quando já deixamos para trás algumas fases da carreira, mas ainda não chegamos onde queremos estar. Pode ser apenas falta de foco, por estarmos com a mira abaixo do alvo.
Para resolver, é preciso pensar num reposicionamento, ou seja, identificar as organizações e as funções que são compatíveis com o pacote de competências que estamos oferecendo ao mercado. Temos a peça certa e sabemos como encaixá-la. Basta encontrar o lugar certo.
Pode acontecer também de não termos o conjunto de competências necessárias para as funções pretendidas. Então, já sabemos qual é o desenho a ser formado e as peças necessárias para isso, mas ainda é preciso aparar as arestas para fazer com que elas se encaixem com perfeição.
Em outros casos, promovemos uma espécie de auto-sabotagem. É uma reação inconsciente, em que evitamos as situações de verdadeira competição. Procuramos estar onde seremos sempre elogiados e admirados, mesmo que não contratados, e fugimos das situações onde haverá uma avaliação criteriosa, e a disputa será acirrada.
Essa batalha é mesmo dura de ser travada, entretanto não podemos fugir da raia porque é lá que se constroem as realizações. De fato, ninguém é qualificado demais, a escolha do nível de competição é que está errada. Cada profissional tem que encontrar o seu.
De qualquer forma, a realidade é que quanto mais preparado for o profissional, menos concorrentes ele encontrará pela frente. São muitas competições e muitos vencedores, mas cada competidor tem que ter clareza do que deseja e jogar o jogo para o qual se preparou.
Ser uma vistosa e brilhante peça no quebra-cabeça errado é destoar do conjunto. Ser a peça, mesmo que pequena e discreta, que se encaixa no quadro, faz com que o desenho se complete. É o que costumam chamar por aí de sucesso!
*Dulce Magalhães é consultora da Work Educação Empresarial, doutora em Planejamento de Carreira pela Universidade de Columbia (USA) e mestre em Comunicação Empresarial pela Universidade de Londres (Inglaterra)

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