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Coisa de homem? – Feministas mais engajadas podem não gostar do fato de que as considerações sobre a aposentadoria se referem quase sempre aos homens. O fato, no entanto, é que a aposentadoria ainda é mais traumática para os senhores do que para as senhoras – pelo menos por enquanto. “Quando estão na ativa, a maior parte dos homens vê o trabalho como algo fundamental para sua valorização na comunidade. As mulheres valorizam o trabalho, mas sabem que têm outros papéis, como o de mãe, por exemplo”, compara Bernhoeft.
Não bastasse isso, os homens enfrentam outro problema: proporcionalmente, os salários deles diminuem mais com o passar dos anos. É o que mostra o estudo “O Idoso Brasileiro no Mercado de Trabalho”, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). Segundo a análise, feita pela economista Ana Amélia Camarano, o rendimento médio do brasileiro é de R$ 300 aos 20 anos e atinge o ápice – R$ 950 – entre os 51 e 55 anos. A partir daí, cai sem parar e chega aos R$ 450 depois dos 80 anos. Entre as mulheres, a variação é menor – até porque os rendimentos médios ao longo da vida também são inferiores. No topo, perto dos 45 anos, as mulheres recebiam R$ 550. Depois dos 80, os vencimentos médios caem para a faixa dos R$ 300.
A preocupação com a manutenção das finanças depois da aposentadoria é uma das que mais atormentam os brasileiros. Principalmente por causa dos míseros vencimentos garantidos pelo sistema público de seguridade social. “Hoje, com o que recebo de aposentadoria, seria capaz de arcar apenas com os custos dos quatro planos de saúde que mantenho”, reclama o diretor de uma grande rede varejista de Santa Catarina, que prefere não se identificar. O executivo, que continua trabalhando, não é o único que perde o sono só de pensar em depender do INSS. Segundo pesquisa divulgada no ano passado pela Brasilprev, 89% dos brasileiros se preocupam com o futuro financeiro da família na época de deixar o emprego.
Para assegurar uma boa transição aos seus funcionários, as grandes empresas geralmente oferecem planos próprios de previdência. “Fizemos uma avaliação dos benefícios que concedemos, e o nosso plano teve nota 8. Para uma pesquisa com mais de 1.200 participantes, foi um resultado muito bom”, alegra-se Renato Butzke, gestor de pessoas da Embraco. Segundo ele, não é de hoje que a companhia joinvillense busca meios de garantir uma aposentadoria mais confortável para seus funcionários. Atualmente, a fabricante de compressores mantém o “Total Prev”. O plano recebe contribuições do trabalhador e da própria empresa e tem um funcionamento muito parecido com os planos de previdência complementar tradicionais. A diferença é que, por ser limitado aos trabalhadores da Embraco, oferece alguns benefícios extras. “À medida que a pessoa vai se aproximando da aposentadoria, a empresa aumenta seus investimentos. Assim, os vencimentos futuros engordam”, detalha Butzke.
Não importa de que maneira – se com auxílio psicológico ou financeiro –, o fato é que a preocupação com os aposentados brasileiros tende a ganhar importância. Afinal, mostram os dados do IBGE, o Brasil não é mais um país eminentemente jovem. Hoje, são cerca de 20 milhões de pessoas com mais de 55 anos no país. E o número deve dobrar até 2020. Nesse contexto, e levando-se em conta que ninguém pretende morrer no curto prazo, é bom que se encontre um jeito de fazer com que os aposentados convivam em paz com o pijama.
Quem ganha com os veteranos
Apesar de não ser uma novidade, a preparação para a aposentadoria é raridade entre as empresas brasileiras. “Nos anos 80 e início dos 90, os programas desse tipo eram uma febre no país”, lembra a assistente Maria Beger, autora de uma pesquisa sobre o assunto. Praticamente todas as estatais de telecomunicações e energia e várias companhias privadas contavam com o serviço. Depois, com as privatizações e com o acirramento da competição entre as companhias, que levou ao corte radical de custos, a prática foi deixada de lado. “Mas parece estar havendo uma retomada”, percebe Maria.
As empresas que se destacam são aquelas que têm programas estruturados. A Randon é uma delas. A companhia mantém o “Novos Caminhos”, que atualmente atende 82 funcionários. O projeto é dividido em três grandes seminários. O primeiro é uma preparação para o desligamento da empresa. O segundo aborda temas como planejamento financeiro e saúde física e mental. Já o terceiro é focado no empreendedorismo. “Se percebemos que o funcionário tem jeito para montar um negócio próprio, damos toda a assessoria, com a ajuda do Sebrae”, explica Janine Pacholski, especialista em recursos humanos.
O importante, dizem os especialistas, é perceber que não são apenas os trabalhadores que se beneficiam com os programas. A empresa também tem a ganhar. “Os funcionários percebem que não serão abandonados, e sim tratados com dignidade ao se afastarem da empresa. E isso melhora o clima organizacional”, diz Ana Fraiman, da A.P. Fraiman.
Além disso, empresas que trabalham adequadamente a saída de seus veteranos conseguem evitar a perda de informações sobre o negócio. “A empresa pode planejar a saída dos funcionários e garantir a transmissão dos conhecimentos adquiridos para novos profissionais. Se o pré-aposentado se transforma em mentor do sucessor, por exemplo, seus conhecimentos são preservados, diz Monika Staudacher, da DBM do Brasil.

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