por Camila Micheletti
A pretensão salarial é uma das informações mais polêmicas do currículo. Na opinião de Denise Kamel, sócia-diretora da SelectusRH, esse assunto deveria ser tratado só na entrevista, jamais colocada no currículo.
“Para as empresas é bom, porque é uma oportunidade de fazer a triagem pelo valor do salário que se pode pagar”. Mas, para o profissional, Denise não vê muita vantagem, já que um salário um pouco acima do que a empresa quer pagar já pode ser motivo para a eliminação do currículo.
Colocar um salário muito abaixo da média de mercado também pode indicar que o profissional não se valoriza e não apresenta as competências mínimas necessárias. “O ideal é não colocar esta informação, a não ser que a empresa peça isso como condição para se candidatar à vaga”. Neste caso, a melhor dica é: tenha bom senso. Converse com pessoas da área, veja tabelas de salários divulgadas nos jornais e estabeleça uma média, não muito abaixo ou acima do que é praticado no mercado.
Já Vanessa Lúcio, analista de Recursos Humanos da Cooperoeste, afirma que a pretensão salarial é importante, pois dá uma margem de expectativa de quanto o profissional quer ganhar. “Facilita e agiliza nosso processo, pois como somos uma cooperativa de trabalho, temos uma demanda muito grande de profissionais em busca de uma recolocação profissional. Só convocaremos esse profissional se atendermos à necessidade imediata dele, poupando o tempo de ambos com processos que poderiam durar 2 ou 3 dias”. Mas ela considera que os cifrões no currículo também podem ter seu ponto negativo: “Aquele que for ousado ou colocar uma pretensão alta para depois negociar ficará prejudicado pois temos que ser rápidos nos processos, não temos muito tempo para a negociação com o candidato. E quando o currículo é direcionado para agências, cooperativas, consultorias, a informação é muito relevante”.
 
E no caso dos formulários de currículos dispostos na internet, seja em sites corporativos de empresas ou em sites de recrutamento online, como o Empregos.com.br? Geralmente, nestes formulários o campo “pretensão salarial” é de preenchimento obrigatório, assim como nome e cargo. Daniel Xavier Mendes, diretor-executivo do Empregos.com.br, afirma que a pretensão salarial é um dado obrigatório porque é uma das primeiras informações que a empresa quer saber do candidato. “O salário é uma das questões que define a contratação de profissionais hoje em dia, essa é a realidade do mercado. Logo que a vaga é aberta, já se tem uma idéia de quanto será a remuneração e a empresa quer justamente encontrar uma pessoa que esteja dentro desse perfil”. Ele concorda com Vanessa, da Cooperoeste, sobre a grande vantagem de ter essa informação no currículo: “Todos ganham tempo, já que a empresa, ao invés de chamar 100 candidatos para a entrevista, chama 30 após fazer a triagem do salário. E o profissional também ganha, já que só vai até a empresa se o salário pretendido estiver dentro do que a empresa pode pagar”.
No Empregos.com.br, o profissional preenche dois campos: o mínimo aceitável (campo obrigatório, normalmente é o salário que ele ganha hoje ou até um pouco mais baixo), e a pretensão salarial, que é um campo opcional e acaba sendo, na maioria das vezes, um valor um pouco mais alto do que se ganha atualmente, ou igual. “Mas tudo depende da região em que a pessoa vive, porte da empresa em que ela trabalha hoje, sua área de atuação, tempo de experiência do profissional e até a política de RH da empresa”, esclarece Daniel Mendes. Por exemplo, se você é um analista de Marketing que ganha R$1.200,00, pode colocar como mínimo aceitável R$1.000,00. A pretensão salarial é o que você deseja passar a ganhar, que pode ser R$1.500,00 ou R$1.600,00.
Para a analista de RH da Cooperoeste, a pretensão salarial pode dizer muita coisa: “um executivo que não teve uma carreira tão brilhante, mas estipula um valor acima da média de mercado, nos mostra um temperamento vaidoso, muito voltado para seu ego. Há aquelas pessoas que se subestimam, colocando uma pretensão abaixo do que seu currículo e experiência expressam. Mas também não há problema em colocar determinado valor e salientar que está aberto à negociações,porque isso nos indica flexibilidade”, finaliza.
Para você ter um currículo assertivo, além da pretensão salarial, é importante se atentar a outros fatores. Veja alguns exemplos e como eles devem ser preenchidos:
Dados Pessoais
Fique atento aos dados pessoais! Principalmente se o número de telefone e o endereço do seu e-mail estão corretos, já que eles irão possibilitar o contato entre você e a empresa. Além disso, é possível indicar o sexo – para evitar constrangimentos diante de nomes que servem para homens e mulheres – ao mencionar o estado civil e a nacionalidade.
Objetivo
É fundamental determinar o objetivo, apesar de muitos profissionais esquecerem desse item. Ter objetivo demonstra determinação. Você pode usar cargos, áreas ou uma frase curta que explique suas intenções.
Qualificações e Habilidades
Este é o espaço para você conquistar o recrutador. Por isso pense bem no que é relevante para atingir o seu objetivo. Seu currículo deve ser encarado como uma ferramenta de marketing, e não como um documento pessoal ou um formulário de pedido de emprego. É importante que você concentre-se no seu futuro e não no seu passado. Sendo assim, enfatize suas conquistas e mencione as técnicas e os conhecimentos que você gosta de usar, e não só os que utilizou porque precisou.
Formação Acadêmica
Esse campo é para você descrever sua trajetória nos estudos. Relate sua formação partindo do curso mais recente para o mais antigo, sempre colocando data de início e conclusão dos cursos. Se você já tem curso superior (faculdade) completo, não precisa citar o que fez anteriormente.
Experiência Profissional
É importante fazer um breve descritivo (no máximo duas linhas) das empresas onde trabalhou – além de citar os cargos e as atividades desenvolvidas -, porque elas podem não ser conhecidas pelo selecionador. Você também pode omitir alguns empregos menos importantes ou mais breves, principalmente se você possuir uma trajetória profissional longa. Não deixe de mencionar uma experiência que tenha sido útil para adquirir habilidades importantes e as promoções.
Idiomas
Relate com sinceridade o nível de conhecimento de cada idioma. Por exemplo, não diga que você é fluente em inglês quando na verdade você só tem conhecimentos básicos do idioma.
Informática
Detalhe os programas que você conhece e qual o nível de conhecimento de cada um deles. Hoje é fundamental ter conhecimentos pelo menos como usuário, porque todas as empresas já usam computadores.
Cursos e Informações Adicionais
Só descreva cursos relacionados ao cargo pretendido. Claro que em determinados casos pode ser interessante você dizer que fez curso de paraquedismo – em outros espaços do currículo, como numa área para hobbies -, pois isso irá demonstrar espírito aventureiro. Use o seu bom senso.