Carreiras | Empregos

por Clarissa Janini
Você já pensou em seguir carreira como mãe? Dirigir orfanatos e trabalhar como mãe social de crianças órfãs já é uma realidade profissional para muitas mulheres. A Lei nº 7.644, de 18 de dezembro de 1987, regulamenta a mãe social como profissão – com direito a férias, 13º salário, estágio e todas as características de um emprego comum. Apesar de ser uma profissão pouco conhecida, exige o desenvolvimento de competências semelhantes às de mulheres com ocupação em empresas ou profissionais liberais. E, para quem possui vontade e motivação de sobra, é possível, sim, conciliar a carreira tradicional com o trabalho social.
A ONG Aldeia Infantil SOS, que emprega mães sociais, surgiu logo após a II Guerra Mundial, na Áustria, quando o médico Hermann Gmeiner notou que o conflito havia criado um excesso de órfãos e viúvas, e resolveu uni-los. Hoje são mais de 55 mil crianças assistidas em 131 países.
As aldeias são comunidades com cerca de 10 lares onde habitam, além da mãe, até nove crianças. Para ser mãe social a candidata passa por rigorosas avaliações – precisa ter como pré-requisitos básicos mais de 25 anos, segundo grau completo, ser solteira, sem filhos pequenos e ser emocionalmente estável. Após ser aprovada em diversos testes, ela faz cursos na Escola de Mães Hermann Gmeiner. A duração dos cursos, que abordam temas como psicologia, nutrição, gerenciamento de lar e pedagogia é de cerca de dois anos. A diretora da escola, Edna Dias, afirma que o perfil das mulheres que procuram esse trabalho é bem diversificado. “Há enfermeiras, bancárias, comerciantes e até noviças. Elas podem ter formações diferentes, mas em comum têm a opção de dedicar a vida para ajudar ao próximo”.
A produtora de eventos mineira Marli Silva decidiu tornar-se mãe social após uma tragédia: “estava de casamento marcado quando meu noivo faleceu. Não queria saber de mais nada na vida, quando uma amiga me falou das Aldeias Infantis”. Marli já “criou” 22 filhos, sendo que quase metade deles já está na fase adulta. Ela conta que no início foi difícil deixar a carreira para se dedicar integralmente aos filhos. “Tinha muitos clientes e não queria largar meu trabalho. Com jeitinho, fui intercalando a vida de mãe social com alguns eventos que produzia. Futuramente pretendo abrir minha própria empresa na área de eventos, mas só quando todos os meus filhos já estiverem crescidos.”
Marlene Nobre, médica ginecologista que ajudou a fundar o Lar Alvorecer, acredita que “as pessoas devem encontrar dentro de si motivação para a carreira e para a vida, seja qual for o trabalho que elas exerçam”. A entidade, que fica em Diadema, na Grande São Paulo, era uma creche e hoje atende a pessoas carentes de todas as idades. Já aposentada, Marlene dedica-se integralmente ao Lar e diz que o trabalho social a ajudou muito na carreira como médica. “Além de abrir meu universo, o dia-a-dia e a convivência com o pessoal da entidade me tornaram mais solidária e tolerante com as pessoas ao meu redor”.
Carreira X trabalho social
Deixar uma carreira consolidada em multinacionais para trabalhar no Terceiro Setor parece pouco provável para muitas pessoas. Já para Ana Lídia Marins foi o caminho da realização pessoal – e profissional. Ela, que já trabalhou em duas multinacionais, é hoje diretora executiva da Brascri (Associação Brasil Criança), organização não-governamental que visa à inclusão social de crianças e adolescentes e já ajudou cerca de 21 mil jovens. “Em 2000 eu estava procurando por novos desafios na carreira. Vi um anúncio da Brascri e mandei meu currículo. Quando me dei conta, já estava trabalhando na coordenação de lá”. Das principais diferenças entre o mundo corporativo e o trabalho na ONG, Ana Lídia destaca a visão e os objetivos. “Nas empresas o seu foco é sempre por resultados materiais. Aqui na Brascri também temos o objetivo de atingir resultados positivos, mas com seres humanos”. Ela também conta que sua bagagem e experiência como executiva ajudaram no emprego atual. “Trouxe a competitividade e a organização empresariais para o lado social”.
Sobre as competências necessárias para ter sucesso no trabalho voluntário, Gilberto Guimarães, diretor da consultoria BPI do Brasil e professor da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, afirma que “para qualquer tipo de carreira, existem cinco competências básicas para o profissional, inclusive para quem faz trabalho social”. São elas:

  • Capacidade de influenciar fatos e pessoas, ou seja, a capacidade de fazer com que as pessoas entendam o que você quer e concordem. Isto é fundamental, pois, nas novas organizações, líder não é aquele que impõe, mas sim aquele que influencia;
  • Capacidade de escolher, de optar por uma alternativa e abrir mão das demais. A capacidade de escolha é fundamental para a tomada de decisões e para a habilidade em negociação;
  • Empatia, a capacidade de perceber o que os outros querem e entrar em sintonia com eles. Em outras palavras, empatia é comunicação;
  • Capacidade de controlar pessoas e situações. A competência de gerenciar pessoas ou projetos depende basicamente da capacidade de saber controlar os fatores, as informações e o conhecimento necessário para concretizar os objetivos. E isso depende do auto-controle, pois, quem não se controla, não vai conseguir controlar processos e pessoas;
  • Capacidade de antecipação, de pensar na frente. Bom profissional é aquele que avalia e prevê o que vai acontecer. Quem não planeja é sempre surpreendido.
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