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As causas e os efeitos da estressada relação do homem com o trabalho fazem parte de estudos recentes em todo o mundo e, no Brasil, ainda não aparecem nas estatísticas. Primeiro porque a maioria dos sintomas se confunde – inclusive cientificamente – com disfunções genéticas e hereditárias. Depois, porque ainda não se descobriu uma forma capaz de comprovar a relação de causa e efeito entre o estresse e as diferentes profissões.
“Cada profissão tem seus fatores estressantes, e os riscos variam tanto de pessoa para pessoa como de uma profissão para outra”, explica Maria da Graça Corrêa Jacques, doutora em Psicologia do Trabalho e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A Organização Mundial da Saúde reconhece que mergulhadores de poços de petróleo, enfermeiros e sinalizadores de pouso e decolagem de aeronaves, por exemplo, apresentam alto risco de estresse. Mas já está comprovado, por exemplo, que qualquer trabalho em ambientes mal ventilados, mal iluminados ou superlotados pode desencadear problemas de estresse que não atingem apenas um trabalhador.
No Brasil, graças a um estudo da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, sabe-se que mais da metade dos professores da rede pública estadual sofre de um distúrbio mental conhecido como síndrome de burnout. O sintoma é uma falta de motivação generalizada – todo o mundo concorda que não deve ser nada fácil educar o futuro desta nação por pouco mais de um salário mínimo!
“Não há um método científico definido para medir o estresse no trabalho”, avisa a doutora Maria da Graça. Enquanto isso, são realizadas estimativas isoladas, que ajudam a dimensionar o tamanho do problema. É o que têm feito algumas consultorias em recursos humanos para medir o nível de estresse dos executivos brasileiros – profissionais que, apesar de terem uma remuneração melhor que a dos professores, trabalham entre 10 e 12 horas por dia, geralmente desprezando o almoço e postergando férias. A consultoria CPH, de São Paulo, estima que sete entre dez desses trabalhadores apresentam estresse crônico. Os níveis variam de moderado a alto.
Os números norte-americanos são mais abrangentes e mais assustadores: 90% dos trabalhadores em geral experimentam pelo menos uma situação de alto estresse durante a vida produtiva. No Japão, o país do estresse por excelência, 10 mil funcionários de empresas morrem a cada ano por excesso de trabalho.
Tempo – “Geralmente, as pessoas não sabem o que querem da vida”, constata Jaime Wagner, diretor da Powerself, uma consultoria de Porto Alegre especializada na gestão do tempo. Para ele, com um pouquinho de esforço e sem estresse, chegaremos à conclusão de que não vivemos só para trabalhar nem só para sentir prazer.
“Vivenciamos contradições diariamente e a principal delas é que estamos condenados a ser livres”, diagnostica. No trabalho, onde passamos a maior parte do dia e onde depositamos nossas ansiedades e ambições, as dificuldades para separar o joio do trigo e determinar prioridades costumam ser maiores. Afinal, é ali que não podemos perder tempo, não podemos perder dinheiro, não podemos perder a cabeça, não podemos perder nada!
“Poucas pessoas percebem que tempo é vida”, destaca Jaime Wagner. “É claro que as demandas são cada vez maiores. Mas também temos mais ferramentas para administrar o nosso trabalho.” Ele ensina os passos para evitar que o estresse extrapole níveis racionais. “Basicamente, é preciso viver o presente, refletir sobre o passado e planejar o futuro.”
Simples, não? Mais ou menos. Além de depender de pequenas mudanças pessoais, para alguns profissionais a virada depende também de uma decisão organizacional. “Quando falamos em estresse no trabalho, não estamos falando de pessoas estressadas, mas de condições e ambientes estressores”, destaca Maria da Graça Corrêa Jacques, da UFRGS. Isto porque, psicologicamente, o estresse é uma epidemia em determinadas profissões. A síndrome de burnout dos professores é um exemplo. “E aí tratamentos individualizados não resolvem: é preciso tratar o grupo e no local de trabalho”, prescreve Graça, destacando que a própria psicologia ainda não está preparada para lidar com o assunto. “A psicologia e a medicina do trabalho sempre trataram desses casos como exceções. Hoje, eles estão virando a regra.”

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