por Izabel Cristina
Você já imaginou receber em dois meses nada menos que 30 propostas de emprego e 1.600 ligações de diversas regiões do país? Como deve ser o perfil de um profissional que conquista esse sucesso? Será que é possível?
Sim, é possível. Tanto que ele existe e se chama Wellington M. Dall’igna. Ao contrário do que pregam os manuais sobre sucesso profissional, ele não é jovem, não possui MBA e vários cursos de especialização, não viveu no exterior e também não domina idiomas estrangeiros. Mas então, você deve estar se perguntando, como ele conseguiu ser disputado pelas organizações?
A estratégia escolhida por esse curitibano de 44 anos foi a de marketing pessoal. Ele publicou um anúncio, no dia 3 de outubro deste ano, nos classificados de emprego do jornal “Gazeta do Povo”, de Curitiba, destacando as habilidades que não possui, seguidas de uma pequena descrição de sua experiência. O resultado foi uma avalanche de contatos e telefonemas. A idéia, segundo Wellington, era fazer o caminho contrário ao habitual. “Normalmente, qualquer pessoa que procura emprego vasculha os anúncios de jornal, seleciona, recorta, manda o currículo e aguarda o contato. Eu resolvi fazer o inverso: anunciei e esperei que as empresas interessadas me procurassem”, diz o profissional que possui 30 anos de carreira, sendo que nos últimos 15 anos esteve trabalhando na área de vendas.
E você, faria algo semelhante? O Empregos.com.br conversou com cinco profissionais da área de Recursos Humanos – consultores e gerentes de empresa – para saber o que fariam diante de um anúncio como esse. Confira as opiniões a respeito da estratégia adotada pelo executivo.
Gutemberg B. de Macedo – diretor da Gutemberg Consultores , especialista em aconselhamento de carreira e outplacement
“ A estratégia adotada pelo profissional foi bastante criativa, mas avalio que isso não se aplica a todos. Quem quiser utilizar o mesmo método não será bem visto, pois será apenas uma cópia. Para despertar o interesse das consultorias e empresas, o que vale é o inusitado. Nisso o executivo se saiu muito bem. Eu, particularmente, não contrataria esse profissional. Na minha opinião, um profissional competente não precisa colocar anúncio no jornal. Ele está revelando para o mercado que não tem valor. O anúncio não é necessário, pois o mercado e as empresas procuram os melhores candidatos”
Djalma Barbosa – gerente de Desenvolvimento Organizacional e Humano da Parmalat do Brasil
“ Há algumas coisas interessantes no anúncio. A estratégia é obviamente inovadora. Demonstra que a pessoa tem muita criatividade, pró-atividade, iniciativa e através do anúncio tenta romper alguns paradigmas, como a exclusão profissional pela idade. Há uma denúncia interessante implícita: nos processos de seleção é comum não se dar retorno aos candidatos que participaram. Muitas empresas que controlam o processo desrespeitam os candidatos. Ele tentou inverter o controle da seleção para si mesmo. O executivo assumiu o controle.
Um aspecto negativo é a agressividade sem necessidade. Falta objetividade no anúncio. Ele coloca o que não tem, não fala das competências que ele possui. Eu notei um certo desabafo com um certo ar de deboche. Talvez tenha sido intencional. Apesar de inovar, eu não o convocaria. Faltou o cuidado de falar das qualidades. Passou uma sensação de ‘eu não tenho tal atributo, nem estou preocupado em ter’. Sem contar que as empresas exigem, em geral, capacidade para lidar com informática, visão estratégica e interesse no auto-desenvolvimento pessoal”
Cintia Motta – gerente de Recursos Humanos da Sap
“Em função do perfil da empresa, eu não entraria em contato. A Sap tem alguns pré-requisitos: inglês, curso superior, e considerando que somos uma empresa de tecnologia, precisamos de profissionais com conhecimentos técnicos mais refinados em informática. Se não fosse pelo perfil, certamente eu falaria esse profissional.
Ele foi criativo e chamou a atenção. Foi muito transparente, corajoso, pois nota-se uma crítica pesada às práticas de seleção em recursos humanos. Quem faz o contato geralmente é a área de recursos humanos.
Ele tem um perfil para vendas, pois não tem medo de se expor. Também terá destaque na área comercial. Gostei do final. Ele deixa claro que o profissional pode e deve escolher onde quer trabalhar”
Elaine Saad – diretora da Right Saad Fellipelli, consultoria de Recursos Humanos
“A postura do profissional envolve um certo grau de risco. Uma empresa conservadora provavelmente não vai gostar dele, por achar que o profissional está sendo apelativo demais. Em contrapartida, se for visto por uma empresa mais aberta, o processo será inverso e positivo para esse executivo. Certamente alguma atenção ele conseguiu. Digamos que a atitude seja vista como ousada e o leve até a entrevista, mas se não tiver algo mais, não adianta. É preciso ter sorte para encontrar alguém que seja tão aberto e flexível quanto este profissional para que o interesse seja mútuo. O anúncio indica que ele é criativo, mas não quer dizer que ele tenha competências para resolver os problemas da empresa. Ousadia e criatividade não são garantias de emprego.
O anúncio é agressivo. Parece que ele está cansado de procurar emprego pelo caminho usual. Ele demonstra indignação pela forma como o mercado funciona”
Mozart Langbeck – gerente de consultoria da Deloitte Touche Tohmatsu
“É um anúncio inovador em termos de venda de imagem e transparência. O anúncio levanta uma questão importante: candidato e empresa têm o direito de escolher o que é melhor para si. O executivo passa a sensação ‘eu não sei nem tenho vontade de aprender’. O domínio de idiomas é cada vez mais um diferencial num mundo globalizado. Se ele obteve sucesso no passado, isso não significa que isso continuará se repetindo no futuro, por isso a necessidade de reciclagem. A questão do micro-computador é fundamental. Não basta apenas ligar e desligar. Hoje o executivo tem de saber utilizar os recursos de informática. Falta atualização, o profissional não pode se contentar apenas com a leitura de jornais. O diferencial está no conhecimento, que virá de leituras técnicas e leituras de sociabilização. Por fim, os resultados que ele coloca são de empresas que ele já trabalhou. Isso não significa que ele continuará trazendo os mesmos resultados. O mundo mudou e as exigências mudaram. Ele transparece que está preso ao passado, e isso é um fato limitador. O executivo precisa se preparar hoje para o que vem amanhã. A questão de não perder tempo, citada no anúncio, foi bem colocada, porque empresa e candidato realmente não querem se dedicar a uma alternativa furada. Com certeza o candidato encontrará uma
empresa que se encaixe no seu perfil”.
Toda regra tem sua exceção
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