Levar a vida na correria já virou doença. Se você é apressado, muito dinâmico, se irrita facilmente e não gosta de perder tempo, cuidado: você pode sofrer da Síndrome da Pressa.
Batizado assim por Marilda Emmanuel Novaes Lipp, Ph.D em Psicologia pela George Washington University e diretora fundadora do Centro Psicológico de Controle do Stress da PUC Campinas, esse mal que faz com que a vítima não consiga relaxar e fazer as coisas com calma atinge cerca de 20% da população da cidade de São Paulo. Outros 75% da população podem desenvolver a doença.
Você já deve estar imaginando que esse problema afeta vários setores da vida do doente: social, profissional e sexual, por exemplo. Pessoas que possuem esse tipo de comportamento tendem a reclamar da sobrecarga de trabalho e da necessidade de serem muito rápidas em tudo o que fazem, e de como são muito ocupadas. Elas sentem-se sempre sobrecarregadas e não admitem “perder tempo” com coisas simples como descansar ou observar a beleza da natureza. “A pressa não permite a realização de atividades que não tenham um objetivo específico”, disse Marilda Lipp.
O perfil descrito acima foi definido pelos cardiologistas americanos Friedman e Rosenman como o padrão “Tipo A” de comportamento, sendo que o “tipo B” caracteriza-se pela ausência de pressa para realizar suas tarefas. “Algumas pesquisas tentam mostrar a origem dessa síndrome e por enquanto o mais certo é que ela seja o produto da interação de dois fatores: predisposição genética e pressão do meio, principalmente do ambiente profissional”, revelou a palestrante. Ela explicou que algumas pessoas não apresentam o primeiro fator, mas sucumbem ao segundo. “Essas sofrem mais porque acabam forçando sua natureza”.
Outros dados apresentados pela psicóloga mostraram que em 10 empresas consultadas nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, 95% dos executivos sofrem de síndrome da pressa. ‘Essas pessoas se orgulham de serem rápidas e por isso não querem mudar. Nossa maior dificuldade no tratamento é convencê-las de que podem ter sucesso sem se desgastar tanto”, disse ela.
Conheça aqui as características dos dois tipos e veja em qual deles você se encaixa:
Tipo A
- Firme aperto de mão
- Andar rápido
- Ritmo rápido para comer
- Voz alta e/ou vigorosa
- Respostas abreviadas nas conversas
- Tendência a cortar os finais das palavras
- Rapidez na conversa e aceleração da fala no final de uma longa frase
- Fala explosiva, enfatizando certas palavras
- Interrompe quando o outro fala
- Apressa a fala do outro
- Usa o punho cerrado ou aponta com o dedo para enfatizar sua verbalização
- É hostil em situações que parecem levá-lo a perder tempo
- Usa frequentemente apenas uma palavra pra responder questões, como “Sim”, “Nunca”, “Definitivamente” e “Absolutamente”
Tipo B
- Expressão geral de relaxamento, calma e solicitude
- Aperto de mão gentil
- Andar moderado a lento
- Voz branda e de baixo volume
- Prolixo nas respostas
- Não corta o discurso do outro
- É lento ou moderado nas suas respostas verbais
- Não acelera o final da sentença
- Dificilmente é hostil
A doutora em Psicologia e supervisora do Ambulatório de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, Mariangela Savoia, complementou a palestra de Marilda Lipp mostrando que o stress na síndrome da pressa tem origem na exposição cada vez maior dos indivíduos à destruição do organismo e do nicho social aonde vivem. “Além disso, é fruto do desenvolvimento de um mecanismo capaz de lidar com ameaças e mudanças”, explicou.
Para combater o problema, ela sugeriu:
1. Modificar o que pode ser modificado
É importante batalharmos pelas mudança que estão ao nosso alcance, e só. Querer mudar o mundo é estressante. Assim, você pode controlar seu tempo, cuidar da sua saúde e de suas tarefas, mas não pode demitir seu chefe. Então não se desgaste com coisas que não dependem de você.
2. Aprender a conviver com o que não pode ser modificado
Essa dica complementa a primeira. Se algo não pode ser modificado, simplesmente deixe como está e encontre aspectos positivos no problema. Além disso, utilize estratégias de enfrentamento voltadas ao problema e não à emoção que ele causa.
Veja algumas outras sugestões já testadas pelo Centro Psicológico de Controle do Stress da PUC Campinas:
- Avalie a si próprio: interesses, senso de humor, flexibilidade, coragem e o que realmente lhe dá prazer
- Compreenda seus limites
- Faça amizades
- Passe algum tempo diariamente em atividades não profissionais
- Estabeleça metas para a sua vida
- Cultive alguma tradição, mitos ou rituais em seu ambiente familiar
- Não permita interrupções quando está resolvendo assuntos importantes
- Reavalie seus objetivos de vida. Note que às vezes se envolve em múltiplas atividades que não estão unidas num objetivo comum.
- Dirija uma parte de sua energia para obter prazer pessoal
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