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Por Camila Micheletti
Consultoria não deve ser uma palavra nova para você, certo? Pode ser consultoria de TI, RH, gestão empresarial, econômica, entre outras, mas você já deve ter trabalhado com pelo menos alguma delas uma vez na vida.
O fato é que, cada vez mais, empresas contratam o trabalho desses profissionais, que acaba saindo mais em conta do que um executivo full-time na empresa, principalmente no caso de projetos específicos, que têm prazo para começar e terminar ou mesmo quando há uma necessidade de reengenharia organizacional na empresa, em virtude de um processo grande como uma fusão ou aquisição, por exemplo.
consultor
De acordo com o Instituto Brasileiro dos Consultores de Organização, o trabalho de consultoria pode ser definido como “o processo interativo entre um agente de mudanças (externo e/ou interno) e seu cliente, que assume a responsabilidade de auxiliar os executivos e colaboradores do respectivo cliente nas tomadas de decisão, não tendo, entretanto, o controle direto da situação que deseja ser mudada pelo mesmo”.
Em outras palavras, a consultoria existe para criar soluções práticas e solucionar problemas que a empresa não consegue resolver sozinha. O presidente do IBCO, Cristian Welsh Miguens, conta que muitos profissionais têm procurado o Instituto para saber mais informações sobre o mercado e dicas de como começar a carreira.
“Costumo falar para essas pessoas que a premissa básica é ter experiência sólida na área que se vai atuar, já que o consultor é um cargo de confiança, que geralmente chega nas empresas por indicação e deve passar muita credibilidade”.
O mercado de consultoria começou a se abrir mais no Brasil no início dos anos 90, com a abertura de mercado e competitividade que se iniciou nos tempos do Governo Collor.
Muitas empresas estatais acabavam se ser privatizadas, como a Telesp, e estas organizações precisavam de um trabalho pesado de reengenharia e mudança organizacional, e foi aí que o trabalho do consultor tornou-se mais conhecido e divulgado por aqui.
“Pode-se dizer que o mercado de consultoria no Brasil teve três fases. A primeira foi com a privatização das estatais, onde todas as companhias resolveram ir em busca de competitividade. Depois veio o conceito de qualidade total, com a implantação da ISO 9000 no Brasil. A terceira e última fase é mais recente e compreende os últimos cinco anos, onde os sistemas de gestão (ERP) viraram febre no mundo empresarial”, explica Dino Carlos Mocsányi, consultor de empresas há 15 anos e especialista em Gestão de Mudanças organizacionais, Estratégia, Reorganização Empresarial, Competitividade, Produtividade e Qualidade.
Consultores de TI não são mais tão requisitados como alguns anos atrás, justamente pelo fato de existirem muitos profissionais na área, e o mercado estar saturado. Para Luiz Augusto Costacurta, vice-presidente do Instituto MVC, a área que está mais em alta para os consultores hoje é a consultoria de estratégia empresarial, que auxilia empresas a se reorganizarem e se modernizarem.
“Eu acredito que outro mercado que perdeu espaço é o dos headhunters, os caçadores de talentos. Com a chegada da internet e consolidação dos sites de emprego e os sites das empresas, ficou mais fácil recrutar pessoas, mesmo para o nível executivo. O trabalho do headhunter nem sempre é customizado e tem um custo alto”, afirma ele.
Dificuldades
O mercado não está fácil e para ser consultor hoje, é preciso mais que conhecimento técnico.
“Houve um amadurecimento muito grande do mercado, hoje as empresas estão muito mais críticas e seletivas quanto ao tipo de trabalho que vão contratar. O mercado está muito difícil para todos, inclusive para as consultorias. É preciso entender que ser consultor não é so mudar o lado da mesa”, afirma Bernardo Leite Moreira, consultor empresarial, especialista em comportamento organizacional, professor do MBA do Instituto Mauá de Tecnologia e autor do livro “O Ciclo de Vida das Empresas”, da Editora STS.
Para Luiz Augusto Costacurta, isso é culpa da banalização da palavra “consultor”.
Ele explica que “hoje o mercado está muito prostituído, qualquer um pode ser um consultor. Mas não basta ser competente tecnicamente, tem que saber transmitir e implantar o conhecimento. E é importante deixar claro que o mercado valoriza primeiro a experiência profissional do executivo, depois a visão de consultor que ele tem. Portanto, quem está começando a carreira deve pensar bem antes de já entrar como consultor. Com exceção de TI, onde uma pessoa com 25 anos pode ser um conultor reconhecido, o resto do mercado valoriza mesmo quem tem estrada”, assegura o executivo do Instituto MVC.
O presidente do IBCO, Cristian Welsh Miguens, afirma que uma das grandes dificuldades das consultorias é transmitir credibilidade para o cliente, principalmente no caso das empresas menores e consultores autônomos, ainda sem um nome formado na praça.
Este é exatamente o perfil de consultorias associadas do Instituto Brasileiro dos Consultores de Organização: consultorias pequenas, com três consultores, no máximo. “Existe muito mercado para os pequenos, por que empresas de médio e pequeno porte que precisam de uma consultoria e não podem arcar com os custos de uma firma de renome, acabam recorrendo à especialistas que cobrem menos, e mesmo assim possam oferecer um bom trabalho”, afirma Cristian.
Perfil e competências necessárias
Confira o que os especialistas ouvidos pelo Empregos.com.br indicaram como competências importantes para o profissional que quer atuar como consultor:
– Capacidade diagnóstica – saiba ver o problema através das suas causas
– Multidisciplinaridade – saiba ver uma questão de vários ângulos diferentes, principalmente o ângulo que a empresa não percebeu ou mesmo não quer lhe contar
– Capacidade de análise – não repita modelos utilizados em outras empresas. E quando for fazer um projeto para uma empresa concorrente de alguma outra com a qual você já tenha trabalhado, informe-a sobre isso, e saiba separar os dois casos de forma ética e transparente
– Habilidade para conviver com o risco e a ambiguidade constantes. Como você não tem vínculo empregatício com as empresas, nunca sabe como será o dia de amanhã
– Capacidade para lidar com imprevistos e lidar com vários projetos ao mesmo tempo
– Não se intimidar diante de um problema aparentemente sem conserto. Muitos deles aparecerão, com certeza
– Ter humildade para ficar na retaguarda do processo e ter maturidade para implantar soluções viáveis e criativas
– Facilidade para trabalhar em equipe e se integrar com facilidade ao grupo. Normalmente o trabalho vai ser feito com o consultor, o gerente ou diretor responsável e alguns outros colaboradores. Ou seja, é preciso ser flexível e saber ceder, mas ao mesmo tempo ser firme para vender sua ideia
– Ser um bom negociador, para poder definir as prioridades da equipe. Pode-se dizer até que o trabalho do consultor se assemelha um pouco com o do gerente, liderando e estimulando os outros integrantes do projeto
– Ter visão do detalhe, mas sem perder o entendimento da ideia como um todo
– Ter vocação para inovação, já que o consultor vai trabalhar com uma relação de trabalho totalmente nova
– Ter maturidade e muito conhecimento, adquirido em experiências profissionais em empresas de ramos e segmentos variados
Especialização é cada vez mais valorizada
A demanda para o mercado de consultoria e a necessidade de especialização é tanta que já existem vários MBAs a respeito. O Instituto Superior de Administração e Economia da Fundação Getulio Vargas, por exemplo, resolveu investir na idéia e lançar o MBA em Formação de Consultores Organizacionais, que vai abordar o contexto organizacional, competências técnicas e profissionais e estudos de casos em vários setores da economia.
“A demanda já existe e a gente sente que o mercado está muito carente de profissionais realmente especializados. O consultor completo, ao menos teoricamente, deve dominar os sistemas de gestão empresarial, ter experiência no ramo de atuação e se aprimorar constantemente”, explica o coordenador de projetos da FGV Consulting, Marcus Vinícius Rodrigues. Segundo ele, este curso vai mostrar uma série de competências que deveriam ser inerentes a todo consultor, tais como:
– saber sistematizar conhecimento
– capacidade de fazer o diagnóstico empresarial
– trabalhar a postura do consultor perante o cliente
– mostrar cases de consultorias – de sucesso e de fracasso
De acordo com o coordenador de consultoria e pesquisa do ISAE/FGV, Miguel Scotti, a profissão de consultor organizacional tem por objetivo a melhoria do desempenho de empresas, instituições governamentais e do terceiro setor.
“Até agora, o mercado paranaense, em franca expansão empresarial, procurou consultorias de outros estados, por não encontrar no Paraná alguém com a alta qualificação exigida”, detalha Scotti.
 

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