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Por Yasushi Arita*
“Quebrar paradigmas” tornou-se uma exigência no mundo dos negócios, dos esportes, da sociedade. O termo que até alguns anos atrás era mencionado casualmente hoje é corriqueiro para traduzir que estamos na era da mudança. O sistema deve mudar. As empresas dependem de mudanças para manter-se no mercado. Os profissionais precisam rever seus conceitos, criar novas formas de atuação e assim por diante. Quebrar paradigmas é romper modelos. Mas, apesar de todos os movimentos e manifestações nesse sentido, se analisarmos profundamente, o que vem acontecendo na maioria das vezes são apenas novas formas de fazer as mesmas coisas com resultados muito parecidos.
Para que um paradigma seja realmente quebrado é necessário que algo seja superado e o novo seja introduzido. É preciso questionar conceitos, regras, emoções, crenças e tudo isso deve começar individualmente para depois alcançar o coletivo. Não existe outro caminho. Ricardo Semler, fundador e presidente da Semco S/A, empresa do setor de serviços, maquinário e softwares e autor do livro Virando a própria mesa é um exemplo fascinante de quebra de paradigmas. Aos 21 anos, ao assumir a empresa de compressores do pai, ele implantou um sistema de gestão baseado na democracia total. Os funcionários passaram a fazer os próprios horários, discutir com os chefes a estratégia do negócio e tirar sonecas em redes instaladas na sede da empresa em São Paulo. Mas , ao contrário do que muitos temiam, a empresa não virou uma bagunça, nem foi à falência. Hoje fatura US$ 160 milhões, tem três mil empregados e vem registrando taxas médias de crescimento de 30% ao ano. Você conhece algum empresário com ousadia suficiente para adotar a mesma estratégia?
Recentemente me lembrei de uma experiência pessoal que evidencia uma outra forma de quebra de paradigma. Numa manhã tranqüila, eu corria numa bela praia no Espírito Santo quando fui surpreendido por um senhor que, aos gritos, se dirigiu a mim com um insuportável “oh japonês”. Não dá para negar a minha descendência, mas eu não suportava ser chamado assim. Quando alguém se dirigia a mim dessa forma, um acesso de raiva era acionado no meu interior. E não foi diferente nesse dia. A minha primeira intenção foi dirigir insultos ao meu interlocutor e desprezar a sua conversa. Freei o meu impulso, parei, analisei e percebi que precisava vencer essa intolerância, quebrar um paradigma e aprender algumas lições. Lembra-se que comentei que a quebra de um paradigma começa individualmente? E posso garantir que sempre favorece o coletivo.
A primeira lição a que me submeti foi buscar o motivo da minha reação diante daquela situação. Forcei-me a trazer à consciência qual era a origem da minha ira. Depois de responder a diversos “por quês” cheguei à conclusão de que quando me chamavam de japonês eram os meus traumas da infância que vinham à tona. Quando procuramos analisar a situação enxergamos que muitas vezes nos tornamos reféns de emoções e hábitos. O segundo passo foi me aproximar do tal senhor e travar um diálogo com ele, pois entendi que de forma alguma ele teve a intenção de criar uma inimizade. Depois da nossa conversa, ponderando as informações que trocamos, percebi que a terceira importante lição estava no fato de ter aproveitado esses momentos para agregar informações inteligentes de um universo diferente do meu. Conclui que o simples fato de tomarmos consciência das nossas próprias limitações é uma quebra de paradigma. Os passos seguintes, invariavelmente, nos conduzem a caminhos que antes pareciam impossíveis. Esse processo ocorre tanto na área pessoal quanto no mundo corporativo.
Com esses exemplos quero ressaltar que não importa a complexidade da mudança. O fato é que só podemos dizer que paradigmas são verdadeiramente quebrados à medida que novas formas de atuação são desenvolvidas e mostram resultados diferentes a médio e longo prazo. Crenças e barreiras se rompem quando a experiência mostra exceções e novas possibilidades, principalmente quando as pessoas e corporações estão abertas a isso. E mudar um paradigma pode não ser tão difícil! Se bem analisarmos, veremos que se trata de um exercício de possibilidades que devem ser bem compreendidas, ponderadas, e, acima de tudo, implantadas.
*Yasushi Arita é facilitador do Leader Training, diretor da Arita Treinamentos e autor do livro Olhe o que você está fazendo com a sua vida!

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