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por Fabrício Viana*
Você já ouviu falar em Orientação Profissional? Se a resposta for sim e seu pensamento for “isso é algo chato e sem sentido”, é melhor repensar sobre o assunto.
Não que todo ser vivo seja obrigado a passar por um processo desse, mas entender sua função na vida das pessoas pode ajudar seus amigos, parentes ou você mesmo na busca da realização profissional. Agora, se a resposta for não, acho que essa é uma boa hora para falar dela. Vamos lá.
Para começar, a Orientação Profissional é uma prática feita por psicólogos. Antigamente, como instrumento de trabalho, estes profissionais utilizavam testes psicológicos (de personalidade, aptidão e atenção, por exemplo) para detectar quais habilidades o indivíduo possuía e, dependendo da resposta, direcioná-lo a alguma profissão que mais se identificasse com seu perfil.
Claro que, com o desenvolvimento da ciência psicológica e a “mutação” de algumas teorias, vários psicólogos deixaram os testes de lado e passaram sua atuação para Psicanálise e outras teorias mais profundas, visto que os testes não eram mais suficientes para este fim.
Bem, o que isso significa? Significa que agora a orientação dada é muito mais abrangente, pois ela analisa o indivíduo como um todo, desde sua história familiar até seus desejos mais profundos. Portanto, sabe-se hoje que toda história de um indivíduo tem muita relação com sua escolha profissional. Se você já tem alguma profissão, analise-a e tente observar o por quê de sua escolha. Duvida? Então veja alguns exemplos.
Quando eu estava no último ano da faculdade de Psicologia, em uma das disciplinas peguei alguns grupos para dar orientação profissional. Uma das pessoas, uma adolescente de 17 anos, tinha uma história não muito agradável com sua família e seu maior desejo era fazer Turismo. Tinha grande fascínio pela profissão. Com o passar do tempo, fizemos um estudo detalhado sobre esse desejo até chegar numa sessão em que consegui descobrir até que ponto ela poderia, ou não, se dar bem naquela área. Foi quando, numa simples pergunta, confirmei algumas coisas que já havia percebido anteriormente. Perguntei como era o profissional de Turismo. Ela respondeu que era uma pessoa que viajava muito e conhecia muitas pessoas. Nunca ficava num lugar, só viajava.
Dentro do contexto de sua história de vida (enfatizando problemas familiares, de busca de identidade e liberdade), a escolha por Turismo não era uma escolha consciente. Seu desejo em Turismo não era o de ser uma profissional da área, mas sim uma possibilidade de sair de casa, de viajar, não ficar mais ali, ser livre e se “livrar” de sua situação atual. Mas quem trabalha com Turismo sabe que viajar mesmo só depois de trabalhar muito e pegar férias. Antes disso, dificilmente. Neste ponto dá para perceber até onde sua escolha, seu desejo, condiz com a realidade e não com suas fantasias.
Outro caso interessante foi um rapaz, filho de uma importante médica e um importante advogado que viviam separados. Ele morava com sua avó e tinha grande interesse em fazer Medicina Legal. Depois de algumas sessões foi constatado que o seu desejo pela Medicina Legal não era o desejo de atuar na área, mas sim juntar, inconscientemente, sua mãe e seu pai (médica e advogado) que, fisicamente, estavam separados. Sua escolha na profissão era alimentada pela fantasia da união dos dois. O mais incrível é que se não fosse um trabalho como esse ele jamais teria noção disso. Tanto ele quanto ela poderiam até fazer Turismo ou Medicina Legal, mas chegaria num determinado ponto que poderiam entrar numa grande crise de identidade profissional. “Será que era isso mesmo que eu queria?”. Em muitos casos, a resposta é não, afinal não é à toa que quando estamos na faculdade vemos muitos amigos desistindo do curso ou mudando para outro.
Aí está a importância de uma orientação no momento da escolha profissional. A maioria de nossas escolhas tem muita relação com nossa vida, nossos desejos, sentimentos reprimidos e frustrações. Não temos acesso à maioria deles e é aí que entra o trabalho de um profissional especializado (neste caso, um psicólogo). O objetivo é checar o “por quê” de determinada escolha e torná-la, para o indivíduo, algo consciente. A idéia é fazê-lo escolher determinado curso por esse e aquele motivo, não pela fantasia de que será a salvação de todos os seus problemas.
Hoje em dia, existem muitos recursos para facilitar uma escolha profissional consciente. Além de diversas universidades que prestam o serviço gratuitamente à população (procure se informar na universidade mais próxima de sua casa), existe ainda uma grande quantidade de materiais relacionados com o tema, como o GIIPE – Guia Interativo de Informações Profissionais e Educacionais, um CD-ROM que traz informações sobre mais de 5 mil escolas superiores, de educação profissional/nível técnico, pós-graduação e inúmeros cursos livres de todo o Brasil. Outra boa opção é o Guia do Estudante da Editora Abril.
Claro que o conselho para quem não pode fazer uma orientação profissional é ler e procurar aprender muito sobre a profissão que está escolhendo. Não adianta terminar o colégio e querer fazer Marketing sem saber como anda o mercado, sem saber onde se pode atuar, sem saber quanto ganha um profissional da área, etc.
Qualquer pessoa pode fazer uma orientação profissional, tanto um adolescente que está quase terminando o ensino médio, como um universitário que está com dúvidas sobre sua futura profissão ou mesmo aquele senhor que já tem experiência, mas que por algum motivo – que os psicólogos descobrirão – sente-se inquieto e pronto para uma reavaliação da vida.
* Fabrício Viana (www.fabricioviana.com.br) é psicólogo.

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