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Por Floriano Serra*
Posso até ser chamado de saudosista ou ingênuo, mas sou daqueles que ainda acredita que o trabalho dignifica o ser humano. Não há uma só categoria profissional que não seja útil para a sociedade e para a economia de um país – de várias formas e por diversas razões.
Mas neste artigo eu quero fazer uma menção muito especial a uma categoria profissional que tem seu Dia comemorado em 14 de julho e da qual sou profundo admirador: a do Propagandista viajante – seja homem ou mulher.
Há várias razões para esta admiração, mas vou citar apenas três. Uma delas é o aparentemente eterno estado de bom humor desses valorosos profissionais também chamados de “representantes”. Todo propagandista que eu conheço – e eu conheço centenas deles porque tenho estado muito próximo do segmento farmacêutico – é alegre e bem humorado. Otimistas, têm sempre uma história, um “causo” ou uma piada para contar. E o fazem com muito talento.
Outra característica que admiro muito nesse pessoal é a afetividade deles entre si. Quando se encontram, parecem amigos íntimos de longa data. Nessas ocasiões, costumam ser muito eloqüentes na comunicação: pode-se ouvir claramente seus alegres cumprimentos, suas vibrantes trocas de opiniões e de novidades. Alguns parecem até esquecer que trabalham em laboratórios diferentes e às vezes concorrentes. Com a mesma euforia, cumprimentam-se, abraçam-se, consolam-se e, sobretudo, respeitam-se.
Os propagandistas também são muito emotivos . Parece que eles têm a emoção à flor da pele – vão às lágrimas com a mesma facilidade com que vão às gargalhadas. O que não significa que deixem de ser rigorosamente profissionais quando chega a hora de usar o racional diante do médico ou de outras situações que assim o exijam.
Mas há um negócio neles que me intriga muito: como é que sendo tão alegres, afetuosos e emotivos conseguem administrar com extraordinária maestria essa coisa incômoda para alguns e até assustadora para outros, chamada ” solidão “?
Posso estar enganado, mas acho o propagandista um solitário. Pelo menos aquele que viaja com freqüência – e aqui se incluem os vendedores, os caixeiros-viajantes e todos aqueles que cumprem sua jornada de trabalho atravessando nuvens e estradas.
Aqui na capital, a maioria dos profissionais, depois do seu expediente diário, regressa para sua casa, para o aconchego da mulher, do marido, dos filhos ou dos pais. Alguns aproveitam a noite para passear com a família, assistir a um filme, jantar fora, visitar amigos ou mesmo ficar em casa brincando, lendo ou vendo TV – sempre com pessoas amadas por perto.
O propagandista viajante não tem esses privilégios. Sei de alguns que já passaram longe de casa muitas datas comemorativas e até aniversários de familiares. Enquanto muitos profissionais estão em festas, eles estão percorrendo estradas esburacadas e tortuosas, visitando cidades distantes e pernoitando em hotéis que dão muitas saudades da caminha caseira… Alguns só conheceram o filho recém-nascido dias após a chegada dele, acredita?
Perguntei a alguns propagandistas a respeito dessa suposta solidão. Vejam algumas respostas:
– “Não é bem solidão. Sinto saudades e uma dose de medo, por deixar a família sozinha. A violência está grande e as estradas estão cada dia mais perigosas”.
– “Aqui nós comemoramos o São João e no colégio da minha filha vai ter uma festinha e ela vai dançar, mas infelizmente estarei viajando nesse momento”.
– “Há semanas que realmente é duro ficar de hotel em hotel, longe de casa, das pessoas que gostamos”.
– “Quando retorno à noite para o hotel e telefono para casa para saber como está minha família, a solidão aumenta e vejo o quanto perdemos. E é nesse momento que nos sentimos pior, porque passamos muito tempo longe de nossos filhos e perdemos muito do convívio com eles”.
– “Uma situação que me deixa triste é passar datas importantes longe de casa”.
– “Solidão, não. Sinto saudade e medo de não estar por perto da minha família se acontecer algum problema”.
-“Solidão é terminar aquele dia de trabalho e ver que, apesar de ter atingido os objetivos, a gente sente que está faltando alguma coisa”.
Detalhe importante: nunca ouvi nenhum deles se queixar . As frases ditas acima não tinham o tom de queixa nem de ressentimento, mas de simples informação, já que foram perguntados a respeito das dificuldades da profissão. Todos os propagandistas que conheço, amam o que fazem e são mestres em transformar o mais azedo limão numa reconfortante limonada. Para eles não tem tempo ruim. O desafio de cobrir as metas é o mais eficaz tônico revigorante e motivador.
Como disse antes, toda profissão tem suas dificuldades específicas. Não é minha intenção passar aqui a idéia de que a de propagandista é a mais sacrificada e que seus profissionais são super-heróis. Nada disso. Eles são tão gente quanto nós. E que trabalham com a mesma dedicação e competência que nós – apenas viajam mais.
Pois bem, eles terão sua data comemorada no dia 14 de julho . Por isso, faço agora um pedido ao leitor: nesse dia, pense um pouquinho neles, com muito carinho. Dê um ” alô ” bem legal por telefone ou envie um e-mail solidário. Eles merecem – do mesmo jeito que você certamente também merece, por razões diferentes.
Para concluir, vai aqui um recado meu para os propagandistas de todo o Brasil e de todos os laboratórios: vocês não estão sozinhos . Nós, aqui da capital e que não viajamos tanto, sabemos do valor, da garra e do talento de vocês. E saiba que reconhecemos e agradecemos por tudo o que vocês fazem pelas nossas empresas.
E se na solidão dos seus dias e das suas noites, alguma vez você tiver a sensação de que há alguém do seu lado, saiba que você não está enganado, ainda que não veja ninguém por perto. Também há Anjos da Guarda viajantes.
* Floriano Serra é colunista do Empregos.com.br, psicólogo, palestrante e Diretor de Recursos Humanos e Qualidade de Vida da APSEN Farmacêutica e autor do recém-lançado “A Terceira Inteligência” (Butterfly Editora).

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