por Wagner Siqueira
O medo é o caminho mais curto para o erro. Por medo, em vez de jogar para ganhar, muitas vezes jogamos para não perder. Não nos esforçamos para acertar, mas para não errar. Ficamos na retranca. Com isso, passamos a ter uma perspectiva incrementalista de obtenção de pequenas vitórias, porém seguras, mesmo que à custa do abandono e da perda das oportunidades. Conformamo-nos com o “feijão-com-arroz” do cotidiano e da rotina, “fazendo apenas o que está no gibi”, para não ter que ousar e desafiar o status-quo.
A solução? Mude radicalmente a maneira como você percebe e trata o erro, seja pessoal ou de sua equipe. Quando ocorrer, diga para você mesmo e compartilhe com os demais:
a) Tanto os erros como os acertos são passos necessários de aprendizagem para as pessoas. A ordem do progresso é a mudança. Quem não consegue mudar a si mesmo, não muda coisa alguma. Bertold Brecht disse: “não me importunem, estou ocupado preparando meu próximo erro”. O modo de lidar com erros indica a capacidade de construir um clima de maturidade e revelar novos caminhos.
b) Se não houver tentativas, ensaios, erros e acertos, também não haverá progresso, mudança, inovação. Todas as idéias devem ser experimentadas para que uma delas dê resultados. Mas só descobriremos a idéia criativa se acreditarmos em todas as demais. O melhor do homem é a inquietude, caso contrário prevalecem a omissão, a indiferença, a apatia. O líder não tem compromisso com o fracasso e o erro. Deve se envolver permanentemente com o que está à sua volta. A insatisfação é o primeiro passo para a transformação e a mudança. É preciso, no entanto, que não queiramos prever, com precisão matemática, a visualização de cenários, o momento de cada ação, a forma prática de cada decisão ou a extensão exata de cada lance.
c) Cometo erros e equívocos sem medo de errar, procurando acertar, mas na convicção de estar fazendo o melhor. Precavenho-me contra eles da forma mais inteligente e prudente que puder. Não corro o risco pelo risco, pois me asseguro de redes de proteção que minimizem a incidência do insucesso. Valho-me sempre da experiência dos membros de minha equipe e a de meus superiores. O líder deve naturalmente compreender que não é perfeito, que as pessoas que trabalham com ele não são perfeitas, e que sua organização não é e nem será perfeita. Deve avaliar continuamente seus próprios pontos fortes e fracos, bem como os de sua equipe e de sua organização, com a intenção de contornar as dificuldades e liderar com base nas forças em todos os níveis, superando as fraquezas de cada um – inclusive de si próprio – com as forças dos outros. Admita que seus liderados possam ser capazes, ao menos potencialmente, de liderar a sua equipe ou mesmo a sua organização na sua ausência. A premissa poderá parecer descabidamente elogiosa para a maioria dos colaboradores e bastante depreciativa da indispensabilidade do executivo. Ainda assim, ela corresponde bem mais aos fatos demonstrados pelas pesquisas do que à hipocrisia que ainda permeia grande parte do folclore da administração sobre o tema.
d) Não participo do jogo da vida na defensiva, restrito à busca de segurança, de auto-proteção, de justificativas e de explicações para as derrotas. Muito menos me contento com os louros obtidos nas vitórias. Quero ir mais longe. Mas me precavenho contra o narcótico do sucesso. A vitória relaxa a crítica, afrouxa a disciplina e deteriora o desempenho.
e) O meu compromisso é com o sucesso e a vitória, mas estou pronto a aceitar quaisquer resultados adversos como parte do processo de participação. Tento de novo, fracasso de novo, fracasso melhor. Aprendo com eles e parto para outra. Sigo em frente porque atrás vem gente querendo me ultrapassar. Nunca é tarde para tentar o desconhecido, nunca é tarde para ir mais além. Começo de novo, começo outra vez e sempre será o começo do infinito, por mais que comece. Seremos o que o tempo nos vá indicando que devamos ser, de acordo com o que formos construindo, caminhando. Mas o que iremos ser, aonde vamos chegar, não pode ficar apenas ao sabor das circunstâncias, como um barco à deriva. Precisa ser uma decorrência inelutável da nossa vontade individual e coletiva de determinar o nosso destino.
O verdadeiro líder é sempre um bom ator. Na crise, sabe como desencapsular as emoções de que necessita para vencer as dificuldades, a despeito da perplexidade que intimamente possa estar sentindo. Na representação de papéis, como o ator no palco, aprende a separar o seu eu-oculto (líder enquanto pessoa) do seu papel de líder de pessoas e de equipes (pessoa enquanto líder).
Por exemplo, imagine-se num vôo em que o avião sofra fortes turbulências logo após decolar. Em poucos minutos o vôo se torna um inferno: o avião joga como uma montanha russa descontrolada. Dentro da cabine pastas e valises dos passageiros despencam do compartimento de bagagem sobre o corredor e as cabeças dos passageiros. Pessoas rezam, soluçam e esbravejam. Numa situação dessas, você também ficaria aterrorizado.
Diante da crise em que nada podemos fazer é hora de transformar o medo em fantasia, a realidade em ficção, o sentimento desconfortável do momento na imaginação de situações agradáveis de devaneio. Feche os olhos, abstraia-se da situação que está vivendo e deixe-se embalar pela fantasia.
É inteligente deixar-se consumir pelo medo? Se houver a mínima possibilidade de escapar num pouso forçado em caso de acidente, você alcançará a porta de saída do avião mais rapidamente se estiver se consumindo pela ansiedade de que nada pode fazer a não ser esperar pelo desfecho dos acontecimentos?
Talvez não seja a turbulência propriamente que o faça sentir tão mal, mas a sua resposta física e psicológica à turbulência. Tire partido da adversidade, controle suas emoções! Recoste a cabeça na poltrona, e se permita divagar, fantasiar, abstrair-se da realidade que o incomoda, principalmente produzida pelo sentimento de impotência e de dependência. Pense e visualize momentos agradáveis, engraçados e auto-realizadores. Divirta-se com eles. Ria. Vivencie-os intensamente como se fossem a própria realidade. É provável que assim consiga enganar os seus sentimentos. Ao final do vôo, talvez seja um dos poucos passageiros a desembarcar com um sorriso nos lábios, não de pânico ou de alívio, mas de serenidade por ter controlado suas emoções. Esta é a representação de seu papel de líder. Assumir como verdadeira uma segunda natureza, apreendida da artificialidade do controle de suas emoções.
Reflita sobre um outro exemplo: imagine-se agora chegando à casa exausto após um estressante dia de trabalho. O seu eu-oculto ansia por algum tempo solitário para recarregar as baterias. À porta de casa, no entanto, a sua esposa o espera para ir ao supermercado. Em vez de jogar-se na poltrona mais próxima e deixar-se ficar, você se vê envolvido com as tarefas domésticas do marido moderno. É a representação de seu papel social. O desempenho do executivo será tanto melhor quanto melhor for a capacidade de compatibilizar o seu eu-oculto com o seu papel social. A expansão do indivíduo como pessoa deve acarretar sinergia ao desempenho da pessoa como profissional. E vice-versa, a representação do papel deve agregar ao indivíduo maturidade, serenidade e equilíbrio, aprendizagens adquiridas a partir da experiência gerencial vivenciada, fundamentais ao aprimoramento da pessoa investida na condição de líder.
Aprenda com o erro
por Wagner Siqueira O medo é o caminho mais curto para o erro. Por medo, em vez de jogar para ganhar, muitas vezes jogamos para não perder. Não nos esforçamos para acertar, mas para não errar. Ficamos na retranca. Com isso, passamos a ter uma perspectiva incrementalista de obtenção de pequenas vitórias, porém seguras, mesmo […]
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