Carreiras | Empregos

por Erik Farina
Idéias criativas e diferenciadas, que ousem fugir do banal, são cada vez mais raras. As empresas vivem uma era marcada por forte crise de imaginação, inovação e senso crítico. Nessa atmosfera, as opiniões se reproduzem e a grande maioria das pessoas apenas repete o que já ouviu ou leu. Esse é o cenário vislumbrado pelo analista social norte-americano Curtis White em seu novo livro, A Mente Mediana – Por Que deixamos de Pensar por Nós Mesmos, lançado no Brasil pela editora Francis. Para ele, o modo de vida moderno está contagiado pela mediocridade em suas principais instâncias. “Sacrificamos nossas vidas por uma sensação de conforto em acatar. O que dizem os pais, professores e porta-vozes da mídia basta para nós. Nossa imaginação anda muito pobre ”, denuncia o autor.
A crítica de White é dirigida à rotina dos norte-americanos. Mas, na opinião de especialistas, pode ser adaptada sem prejuízos à realidade brasileira. “Parte de nossa sociedade está sem espírito crítico, com preguiça de pensar, e aceita passivamente o que é colocado”, entende o psicólogo e administrador José Ernesto Bologna, fundador do Ethos Desenvolvimento, de São Paulo.
As causas dessa pobreza de pensamento estão ligadas à formação cultural. Desde a infância, o indivíduo é ensinado a repetir o que dá certo para se encaixar ao que a sociedade e o mercado pedem. Poucos são estimulados a pensar em formas alternativas de conduzir a vida. O resultado é uma geração inteira com as mesmas idéias, pontos de vista semelhantes e com chances minguadas de deslanchar na carreira. “Vivemos uma crise de paradigma, na qual todos fazem as mesmas coisas, assistem aos mesmos programas e se relacionam com pessoas de mesma mentalidade”, analisa a pesquisadora e escritora Dulce Magalhães, da Work Educação Empresarial, de Florianópolis.
As conseqüências da mesmice são perigosas. Pessoas com perfil de “mente mediana” deixam escapar oportunidades e estão mais propensas a serem atropeladas pela rotina. As tarefas mais banais – como procurar vias alternativas a um engarrafamento no trânsito em vez de esperar que a situação se resolva sozinha – são sequer consideradas. Em casa, quem não usa a criatividade para diversificar em seus momentos de lazer com a família é alvo fácil do tédio. No trabalho, os profissionais não convencem em reuniões e nem conseguem visualizar soluções em momentos de crise. A pena: dificuldades para impulsionar a carreira. “Estamos na era do talento e da criatividade. Profissionais com pensamento diferenciado são muito valorizados e abrem um abismo de oportunidades e salários em relação aos que têm mente mediana”, alerta Victor Mirshawka Júnior, professor de criatividade da Fundação Armando Álvares Penteado (Fappa).
Até as escolas e universidades são acusadas pela difusão da cultura da mediocridade. Poucas abrem espaço para que os alunos pensem ou critiquem o que é ensinado. “Muitas universidades não se preocupam com a reciclagem ou desenvolvimento cultural de seus professores, e isso se reflete no ensino”, lamenta o professor de Marketing Marcos Cobra, da Fundação Getúlio Vargas.
A mídia também é apontada como vilã. Raramente, o telespectador consegue chegar em casa e encontrar na televisão um programa que estimule o debate e o senso crítico. Para Curtis White, ao ativar o controle remoto, o que se encontra são programas banais, que se prendem à superficialidade e valorizam a compreensão fácil e o entretenimento. “A mídia visa às emoções, aos sentimentos, deixando em segundo plano a preocupação com cultura e conhecimento”, concorda José Ernesto Bologna.
A síndrome da mente mediana não é apenas uma preocupação individual. Para as empresas, contar com uma equipe de executivos despreparados para pensar e criar pode significar a ruína. “A companhia sem funcionários e executivos criativos está fadada à estagnação e é facilmente superada pela concorrência”, acredita o professor Marcos Cobra. Os próprios empregados saem perdendo com a ausência de estímulos para quebrar paradigmas. “A falta de motivação do funcionário em debater e inovar pode resultar no desânimo em trabalhar, e isso baixa sua produtividade e aumenta a possibilidade de falhas”, explica a especialista em alta performance mental Rosalia Schwark, da consultoria Movimento Perfeito, de Porto Alegre.
É possível sair da média – Assim como a síndrome da mente mediana é contraída por vias culturais, livrar-se dela depende de mudar atitudes rotineiras e adotar novas posturas. “Conhecer pessoas com pontos de vista diferentes, variar os locais de lazer e diversificar as fontes de informação são maneiras de começar a criar uma nova cultura”, aconselha Dulce Magalhães.
Estimular o raciocínio é outra forma de abrir o leque cultural. O debate é uma forma efetiva e prática de exercitar o cérebro e levá-lo a desenvolver novas idéias. Conhecer a opinião de outras pessoas, por mais divergentes que possam parecer, pode ajudar a enxergar uma situação de forma diferente. Investir tempo e dinheiro em cultura também é importante. Participar de seminários e cursos de atualização, conhecer artes e autores de áreas diversas são boas estratégias para expandir os horizontes intelectuais.
As empresas devem dar um empurrão para contar com funcionários mais criativos. Para isso, é fundamental que incentivem a participação de seus executivos em congressos e eventos culturais, o que pode incluir desde filmes a exposições de arte. “Estar diante do novo e aumentar o foco das percepções são iniciativas importantes para o crescimento intelectual do indivíduo, e isso se reflete em suas vidas pessoais e profissionais”, explica o consultor em desenvolvimento humano Eugênio Mussak, da Sapiens Sapiens Consultoria, de São Paulo. Os resultados costumam ser valiosos. “Organizações com funcionários criativos, com idéias diferenciadas, tornam-se mais competitivas, inovadoras e são responsáveis pelos produtos de maior sucesso no mercado”, destaca.

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