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por Elvina Lessa*
De acordo com Carl Gustav Jung, um dos maiores psicólogos do século XX e autor do livro Tipos Psicológicos, as pessoas têm características, aptidões e habilidades diferenciadas que ele representou como o Tipo psicológico. Essas diferenças seguem uma influência genética.
Inicialmente, Jung distinguiu o grupo dos introvertidos e dos extrovertidos devido à atitude que eles tinham ao buscar energia. Os extrovertidos são voltados para o mundo externo, de objetos, atividades e pessoas; enquanto os introspectivos são voltados para o seu mundo interno, subjetivo, de idéias e reflexões. Segundo Jung, os extrovertidos e introvertidos diferenciavam-se conforme os processos mentais e funções psíquicas que eram utilizadas para as pessoas perceberem e tomar decisões. Ele distinguiu as funções perceptivas – sensação e intuição – e a função de julgamento – pensamento e sentimento.
As pessoas que preferem usar a função sensação tendem a perceber pelos cinco sentidos, sendo realistas, voltadas para o presente, práticas e com a visão passo-a-passo de um processo. Por outro lado, as pessoas que utilizavam a função intuição eram pessoas que percebiam pelo sexto sentido, tinham pressentimentos, sendo voltadas para o futuro. Gostam de ambientes de trabalho onde possam inovar, sendo criativas. As diferenças de percepção são marcantes, pois enquanto as pessoas que utilizam a sensação viam o trem passando vagão por vagão, as pessoas que utilizavam a intuição viam o trem do alto, com uma visão gestáltica.
Um estudo realizado com trainees de uma empresa de mineração onde foi utilizada a teoria dos tipos psicológicos foi verificado aspectos do relacionamento e de dificuldades entre as pessoas com tipos psicológicos diferenciados em situação de trabalho em equipe. Foram realizadas entrevistas com os jovens e aplicado o MBTI, um inventário de personalidade que procura identificar os tipos psicológicos. A análise das entrevistas resultou em pistas significativas para entender o relacionamento entre pessoas que possuíam tipos psicológicos distintos. As entrevistas foram analisadas pelo método de análise do discurso e foram identificadas as seguintes categorias: as características de cada um, o ambiente de trabalho preferido, as afinidades e complementaridade que eles tinham com os outros e as dificuldades entre eles no trabalho em equipe. Destacaremos a seguir algumas características dos extrovertidos e introvertidos e o relacionamento entre eles no trabalho.
INTROSPECTIVOS
Os introspectivos preferem um ambiente de trabalho onde possa ter concentração e aprofundar em um problema ou projeto. Eles gostam de trabalhar em um local onde possam ficar mais isolados, com menos pessoas ao redor, conforme fala a seguir. “Eu gosto mais de trabalhar em silêncio… Não gosto de confusão, de ficar um monte de gente gritando que tem que fazer isso, fazer aquilo… gosto quando me deixam quieta, se ficar aquele tumulto do meu lado, me enchendo a paciência, eu me estresso”. Hoje em dia predominam ambientes grandes, sem divisão de postos de trabalho. Assim, o introspectivo precisa sair de sua zona de conforto quando trabalha nesses locais, que podem ter mais de 300 pessoas no mesmo espaço.
Uma das características de uma pessoa introspectiva é de estar muito bem preparada para uma reunião, como disse outro entrevistado: “No dia anterior, deram o manual de instrução fininho. Eu passei a noite toda, li aquilo de ponta a ponta, como tinha que ser, as regras… Se amanhã tiver uma reunião tal, e você tem que ler esse relatório a madrugada inteira, eu leio. Eu chego na manhã com todos os pontos definidos, desenhados. Pode ser loucura, mas eu sou assim”.
Eles não gostam de ser pressionados a falar em uma reunião. Um introspectivo disse “detesto aquele monte de gente que fica dizendo: você é tão caladinha…” Parece evidente a dificuldade dos entrevistados, tanto introspectivos como extrovertidos, de lidar com a rotina, que consideram a parte “chata” do trabalho, a que eles rejeitam e não gostam. A capacidade de ouvir é uma das características do introspectivo, conforme um deles revelou: “Eu já paro, escuto, analiso…” Um outro disse “…Eu tenho muito o lado de ouvir as pessoas.”
EXTROVERTIDOS
Os extrovertidos são bem diferentes dos introspectivos especialmente no relacionamento e na comunicação com outras pessoas. Os extrovertidos gostam de trabalhar em grupo, ter contato com muitas pessoas e de trocar idéias e informações com os outros conforme. Ele disse: “Uma coisa que eu valorizo muito é a capacidade de conversar e de colocar idéias”. [1]
Um extrovertido afirmou que gosta do seu trabalho porque viaja muito e conhece sempre muita gente. Eles podem ser impacientes com tarefas longas e não importam quando são interrompidos. Os extrovertidos tendem a confiar no relacionamento com as pessoas, conforme seu depoimento: “Acho que confio mais nas pessoas, não tenho muito pé atrás com as pessoas”. O introspectivo por outro lado revelou que : “para ser meu amigo, tem que passar por várias etapas”.
Afinidades e complementaridade
A análise dos resultados da pesquisa constatou que as pessoas gostam de trabalhar com quem possa complementá-los, ou seja, que tenha habilidades diferentes das deles.
Um introspectivo, ao identificar pessoas que gostou de trabalhar diz: “…Foi trabalhando com eles que eu aprendi formas novas de se colocar as idéias”… “Ele não tinha vergonha de falar”… “Então, isso me agradou, porque é bom ouvir uma pessoa que se dispõe a falar, demonstrar seus pontos de vista. Isso me agradou bastante, apesar das opiniões serem divergentes, a gente sempre entrar em conflito no meio das reuniões.”
Um extrovertido disse que gosta de trabalhar com um introspectivo porque ele ouve bem as pessoas, focaliza o importante num problema, entra mais no detalhe do problema. Devido a sua discrição, tem dificuldade de se expor em um ambiente com muita gente; por isso ele pode deixar de participar e dar a sua contribuição para a equipe.
Dificuldades
Ficou evidente nas entrevistas a dificuldade entre introvertidos e extrovertidos quando se relacionam em equipe. Uma das armadilhas do extrovertido é falar muito e deixar de ouvir as outras pessoas na equipe. Nas reuniões onde predominam extrovertidos, os introspectivos podem deixar de falar, pois não querem competir com os extrovertidos que, às vezes, podem tentar dominar a reunião, não deixando os outros falarem.
Introspectivos tendem a achar que os extrovertidos são superficiais na reunião, uma vez que os extrovertidos gostam de pensar junto com os outros e os introspectivos gostam de pensar de preferência antes da reunião. Gostam de pensar muito antes de dar a sua opinião, sendo do tipo que pensa e depois fala. Ao contrário do extrovertido que pode falar sem pensar devido à impulsividade e rapidez para dar sua opinião, ele é do tipo que fala e pensa. Por serem, às vezes, impulsivos e rápidos na ação, podem parecer superficiais e se arrependerem do que fizeram.
Como lidar com introvertidos e extrovertidos
Ao lidar com extrovertidos as pessoas devem procurar ser espontâneas, devem usar o telefone e discutir o assunto na hora, não devem ainda impedir que eles se expressem. Já com o introspectivo, a pessoa deve procurar colocar tudo por escrito e estar pronto para falar primeiro e dar tempo para eles pensem não pensando que o silêncio leve a uma coisa negativa. Os introspectivos não gostam de ser interrompidos e de serem pressionados por respostas rápidas.
Os extrovertidos devem lembrar de utilizar suas habilidades de escuta e os introvertidos devem buscar dar sua opinião na reunião. Devemos, pois, sair da nossa zona de conforto para comunicar-se melhor com o outro e compreender os pontos de vista e atitudes diferenciadas uma das outras. A partir dessa compreensão e do respeito ao outro, estaremos desenvolvimento nossa personalidade, melhorando nosso autoconhecimento e buscando nossa maturidade. Pessoas com mais maturidade serão melhores colegas de trabalho e melhores pessoas para se conviver.
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[1] I – Introspecção (energia vem de dentro) ; E – Extroversão (energia vem de fora) ; S – Sensação (volta-se para fatos); N – Intuição (volta-se para possibilidades); T – Pensamento Lógico (decide com objetividade); F – Sentimento (decide por meio de valores); J – Julgamento (deseja definição); P – Percepção (deseja manter coisas em aberto) . A letra sublinhada refere-se a função dominante do tipo. A função dominante do tipo ENTP é a Intuição (N).

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