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por Camila Micheletti
Um economista falando sobre um tema aparentemente tão abstrato como a felicidade? Sim, e com muita propriedade. Eduardo Gianetti da Fonseca é sociólogo pela USP e PhD em Economia pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Autor do livro “Felicidade – Diálogos sobre o bem-estar na civilização”, Eduardo mostrou aos participantes da Career Fair, através de pesquisas e números, o que é e como medir a felicidade no plano pessoal, organizacional e ainda qual seria o projeto de felicidade do povo brasileiro.
Ele afirmou que a felicidade pode ser dividida em duas vertentes:
Estar feliz – Sentimento de bem-estar que toma conta do indivíduo em momentos diversos e isolados, como fazer uma viagem, ganhar um presente, receber um elogio…
Ser feliz – Avaliação que você faz da sua vida e trajetória pessoal, baseado em um projeto/ plano de vida. Também pode ser definido como o bem-estar subjetivo, que é o grau de satisfação que a pessoa tem da vida que leva.
“Os dois não caminham juntos. Posso ser feliz por vários momentos e não ter um plano de vida”. Ele completou dizendo que “a vida não é feita de momentos isolados de euforia, e sim de escolhas estratégicas. Todos precisam de um plano, uma estrutura. A vida é um círculo”, garantiu.
A máxima de que dinheiro traz felicidade, segundo Gianetti, é falsa. Não há qualquer estudo que comprove a relação entre os dois, pelo contrário. Uma pesquisa feita com ganhadores de prêmios acima de US$ 500.000 nos Estados Unidos verificou que, passado o nível de euforia, a sensação de bem-estar volta ao seu estado normal, e depois até cai, ficando os novos ricos até mais infelizes que o resto da população. “Tomar uma taça de champanhe duas vezes por ano é maravilhoso, mas se faço isso toda semana acaba perdendo a graça”, exemplificou.
Então, se consumir mais não garante a felicidade do homem, este deve buscar a realização no trabalho. Aí que entra o papel das organizações na felicidade das pessoas: as empresas bem resolvidas, que permitem que seus colaboradores tenham abertura e espaço para fazer o que gostam são também as mais bem-sucedidas financeiramente.
Mas, infelizmente, a regra ainda é o modelo tradicional de empresa, cujo objetivo maior é remunerar os acionistas; atingir o lucro. A força de trabalho, nestas empresas, é vista como uma mercadoria, como os equipamentos de informática ou os produtos de limpeza. “A empresa tem que trazer a ‘pessoa inteira’ para o trabalho e, assim, evitar a alienação”. Quando isso não acontece, o trabalho fica alheio à pessoa, e esta vai buscar conforto no
consumo, nas compras.
Além de falar sobre o fator pessoal e organizacional da felicidade, Eduardo Gianetti também falou um pouco sobre os entraves do país que impedem o povo brasileiro de ser mais feliz. Para ele, o Brasil tem condições de melhorar a situação do desemprego, desde que haja uma mudança efetiva da CLT. “Ela é anacrônica à economia globalizada e inibe a geração de emprego”. Ele cita como pontos críticos a quantidade de encargos que recaem sobre as empresas, que pagam mais para o Governo do que para o trabalhador; e a incerteza que incide sobre o contrato de trabalho. “O Brasil é recordista em ações trabalhistas, isso precisa mudar”.
O mercado de trabalho brasileiro apresenta dois aspectos ruins dos outros continentes: “Temos uma rigidez européia no mercado formal e uma liberdade anárquica americana no mercado informal”. Mas será possível crescer, evoluir e continuar com o povo genuinamente feliz, característica básica do povo brasileiro?
Eduardo preferiu não responder esta questão. Afirmou que o processo civilizatório tem um alto custo e muitos países tidos como desenvolvidos apresentam uma certa melancolia, já que seus habitantes passam a ser mais calculistas e com menos possibilidades de alimentar fantasias. Segundo ele, é o preço que se paga pelo progresso. Afinal, o que se ganha de um lado; perde do outro.
“Só não podemos nos resignar a ser um estado empobrecido do sul dos Estados Unidos. Cada cultura incorpora um sonho de felicidade, e os brasileiros precisam construir o seu ideal de realização pessoal e profissional”, concluiu ele.

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