Márcia Veloso Kuahara*
Despreocupação com a qualidade de vida ou pura falta de tempo? O que leva um alto executivo que chega a trabalhar mais de 16 horas por dia a deixar de lado os cuidados com a saúde? As desculpas são inúmeras, mas uma coisa é certa: um executivo afastado por problemas de saúde custa muito caro para a empresa. Portanto, esse não é um problema exclusivamente do colaborador, mas uma questão que deve fazer parte das ações dos departamentos de Recursos Humanos de uma grande empresa.
Pesquisas mostram que colaboradores que adoecem e não procuram assistência médica, apresentam maior absenteísmo e mortalidade. Funcionários que trabalham com dores musculares, enxaqueca ou refluxo gastroesofágico perdem em produtividade o equivalente a 83,8 dias por semestre, enquanto o absenteísmo é de 4,5 dias no mesmo período.
O executivo costuma superestimar sua saúde. O seu foco está nos negócios, na competitividade e nas exigências profissionais e ele sempre acha que o check-up pode esperar. Por outro lado, 80% admitem dormir mal, em decorrência das tensões do dia a dia, e usar bebidas alcoólicas regularmente. Uma mistura perigosa que leva ao aparecimento de doenças, principalmente as cardiovasculares, o diabetes e os cânceres.
Apesar disso, pesquisas apontam que apenas 70% dos executivos realizam check-ups e destes, 30% só se predispõe a fazer após muita insistência. Alguns não buscam os resultados dos exames e a maioria não segue as orientações do médico. Mas a culpa não é totalmente dos executivos, eles não se sentem motivados a ir ao médico e a fazer os exames porque falta personalização nesse processo. Os check-ups costumam ser padrões e não levam em conta hábitos e características individuais.
O processo é mecânico. As empresas trabalham com “pacotes” prontos de check-ups e os médicos pedem uma infinidade de exames de forma aleatória que não levam em conta a individualidade de cada um. Resultado: os recursos são mal empregados, os executivos se estressam com a quantidade de exames e a desorganização do processo e, na maioria das vezes, não se consegue mudar a evolução natural de uma doença, pois não se levou em conta o histórico do paciente.
Saber a incidência de alguns tipos de cânceres ou de doenças cardiovasculares na família, por exemplo, é muito importante para mapear os exames que devem ser solicitados. Se o risco familiar é de câncer de intestino, por exemplo, uma colonoscopia é imprescindível.
Mas para agir de forma preventiva efetivamente, o papel do médico não pode se restringir a solicitar e avaliar exames. É preciso ouvir o paciente e atuar de forma personalizada, apurando o histórico familiar para avaliar os riscos e mapear os exames que devem ser solicitados.
Além disso, no caso de executivos muito ocupados, o médico da empresa deve atuar de forma proativa e, em conjunto com a secretária, averiguar as melhores datas para exames e retornos, além de otimizar a solicitação de exames para facilitar a vida de quem não tem tempo de se deslocar.
Com essa relação de confiança estabelecida fica mais fácil fazer com que o paciente se sinta comprometido com o processo e a partir daí o médico poderá oferecer alternativas de dietas e exercícios físicos, indicar um personal ou fisioterapeuta e estabelecer metas.
*Márcia Veloso Kuahara é reumatologista, especialista em qualidade de vida, diretora da Wellnex (empresa que presta consultoria na área de saúde executiva) e professora da Universidade Nove de Julho (UNINOVE).
Executivos trabalham demais e se esquecem da saúde
Alguns não fazem check-up e a maioria não segue as recomendações. Exames focados no histórico do paciente e proatividade do RH podem mudar essa realidade
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