Carreiras | Empregos

por Camila Micheletti
Poderia ser mais um dia ensolarado e igual a todos os outros, mas 06 de setembro de 1998, para Lars Grael, iatista e medalhista olímpico – duas medalhas de bronze: em Seul/88, e em Atlanta/96 – foi um dia que ficará marcado para sempre em sua vida. Foi nesta ocasião, quando treinava para os Jogos de Sydney, que um barco atingiu seu veleiro, acabou tirando-lhe a perna e, por muito pouco, não lhe tira a vida também.
A trajetória de desafios constantes, vitórias, derrotas e, sobretudo, superação do esportista era uma das palestras mais aguardadas do segundo dia da Career Fair – e foi sem dúvida uma das mais aplaudidas.
Lars começou sua apresentação afirmando que seu exemplo de superação não se restringe ao momento do acidente, mas à toda a trajetória do esporte da vela. Segundo ele, há 30 anos, quando ele começou, existia um estigma muito grande contra este esporte, considerado de elite. Daí o desafio de se conseguir patrocínio, ser reconhecido e não ser tratado como um ‘vagabundo’ quando voltava de uma competição.
Os anos de ouro foram de 1984 a 1988 e culminou com o reconhecimento de um empresário, que se sensibilizou com a história de Lars e resolveu apostar no atleta. O patrocínio veio em ótima hora, já que Lars estava pronto para competir em Seul, mas não tinha um barco com condições para tal. Ele e o parceiro Clínio de Freitas conquistaram a medalha de bronze nesta Olimpíada.
“Em 1992, nas Olímpiadas de Barcelona, éramos os favoritos, o parâmetro a ser vencido pelos adversários”. Mas não foi bem isso que aconteceu. Contrariando as expectativas, eles ficaram num modesto 8º lugar. Segundo ele, a fase pós-Barcelona foi muito complicada. “Já sem patrocínio, o sonho de viver de vento ficava cada vez mais difícil.”
Quatro anos depois, as Olimpíadas de Atlanta registraram um fato histórico: pela primeira vez, o Brasil venceu no quadro de medalhas na vela, esporte pouco conhecido por aqui. O irmão de Lars, Torbe Grael, trouxe o ouro para casa; Lars levou mais um bronze, junto com o parceiro Kiko Pellicano. “Neste momento senti que a motivação e as palavras de incentivo do treinador fizeram muita diferença e ajudaram na conquista da medalha”, contou ele.
O fatídico acidente aconteceu dois anos depois. Longe de ter se tornado um homem amargurado, dependente e infeliz, o atleta demonstra uma força de vontade e determinação contagiante. “Tudo na vida depende do prisma que você olha a situação. Não foi nesse dia que perdi a perna. Foi lá que ganhei a vida”.
A repercussão do acidente assustou um pouco Grael, que ficou muito emocionado e sensibilizado com as demontrações de carinho e afeto, que vieram de todas as partes do país. “Achava que vivia no acostamento do sucesso. Infelizmente, a tragédia tem mais repercussão que a glória. Mas da situação ruim surgiram boas oportunidades. Tive que reaprender a viver”.
Voltar a velejar e competir com a força de antes é praticamente impossível, por que a classe que Lars competia, Tornado, exige muita força física, principalmente das pernas. O que não quer dizer que ele vai deixar a vela de lado. Muito pelo contrário: Lars está competindo pela vela oceânica e já faturou alguns campeonatos, inclusive um merecido 1º lugar no Campeonato Brasileiro de Vela Oceânica de 2004, realizado em abril no litoral de São Paulo.
Mas, atualmente, a principal ocupação dele vem sendo a política. Com o acidente, Lars Grael recebeu um convite para ser o Secretário Nacional de Esportes, cargo que ocupou até 2003, quando foi convidado pelo Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, a assumir a Secretaria da Juventude, Esporte e Lazer do Estado. “Sempre fui muito atuante. Gosto de política. Por isso aceitei o desafio de ser secretário”.
Além de ser uma história que demonstra a garra de alguém que soube driblar as dificuldades e retomar a vida, a trajetória de Lars Grael é um exemplo para aqueles que teimam em não levantar após a primeira, segunda ou terceira queda. Pense em “superar limites” quando você perder o emprego, tiver um problema muito difícil para resolver ou passar por um momento de muita tristeza, decepção, morte. “Você pode aprender muito com a derrota e tirar uma coisa boa desse momento ruim”, ensina o esportista.

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