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por Denize Dutra*
 
Existem, hoje em dia, muitas publicações sobre os atributos ou competências consideradas essenciais para o sucesso profissional. O conceito de sucesso é por si só muito subjetivo e, conseqüentemente, também se torna muito subjetiva a análise de tais competências. Podemos, no entanto, identificar alguns atributos que são comumente citados na maioria das pesquisas e estudos sobre o tema: auto-motivação, competências interpessoais, tomada de decisão e a assertividade. Daremos especial atenção, neste momento, à ASSERTIVIDADE, por ser a menos conhecida, por estar relacionada aos outros atributos citados e pela importância que vem assumindo dentro do atual contexto das organizações.
Outro aspecto que justifica uma atenção especial dada à Assertividade é o fato de que muitas pessoas têm uma compreensão equivocada a respeito desta característica. Estamos numa sociedade em que, apesar da crescente violência, as pessoas têm muita dificuldade de lidar com a agressividade e, muitas vezes, esta agressividade é confundida com a assertividade. Assim sendo, pessoas agressivas se auto-intitulam “assertivas” ou muito francas, ou ao contrário, algumas pessoas não assumem suas posições de forma simples e autêntica, com receio de parecerem agressivas.
Penso que o nosso primeiro passo é entender o significado literal da palavra assertividade, com o auxílio do nosso Dicionário Houaiss, que assim a define: “é qualidade ou condição do que é assertivo; assertivo: que faz uma asserção; afirmativo locutor que declara algo, positivo ou negativo, do qual assume inteiramente a validade; declarativo; afirmação que é feita com muita segurança, em cujo teor o falante acredita profundamente”.
Outro passo é sabermos que existem 4 tipos de comportamentos: passivo, agressivo, agressivo/passivo e assertivo. Cada um deles tem vantagens e desvantagens, dependendo do momento em que for manifesto. Quando digo manifesto, é uma forma de chamar a atenção para a idéia de que comportamento é algo variável, que pode mudar de acordo com o momento e a situação e, em função disto, uma mesma pessoa pode ter os 4 comportamentos ainda que, certamente, exista uma tendência maior para as pessoas agirem de determinada forma em circunstâncias “normais” , ou seja, o indivíduo tende a adotar um determinado estilo como o mais freqüente. Esta constatação nos confirma a idéia de que podemos mudar um comportamento se percebemos que ele não está valendo a pena, isto é, não satisfaz as nossas necessidades, expectativas e objetivos pessoais. Podemos, portanto, desenvolver a nossa assertividade.
Comentamos, anteriormente, que a assertividade tem relação com as outras características citadas e já percebemos, ao falarmos dos quatro tipos de comportamento, que as pessoas assumem os diversos tipos de comportamentos em suas relações interpessoais. Cabe-nos, agora, identificar o que este conceito tem em comum com a automotivação. Na medida em que todo comportamento tem motivos, precisamos entender quais são os motivos que nos levam a desenvolver o comportamento assertivo e, com certeza, nada responde melhor a esta questão do que, genericamente, considerarmos os benefícios que o comportamento assertivo pode trazer às pessoas:
lidar com os confrontos com mais facilidade e satisfação;
sentir-se menos estressadas;
adquirir maior confiança;
agir com mais tato;
melhorar sua imagem e credibilidade;
expressar seu desacordo de modo convincente, mas sem prejudicar o relacionamento;
resistir às tentativas de manipulação, ameaças, chantagem emocional, bajulação, etc;
sentir-se melhor e fazem com que os outros também se sintam melhor
Sabemos da importância e temos motivos para ser assertivos, agora uma terceira questão: como desenvolver a nossa assertividade? Sem pretender dar “receitas” prontas ou mágicas, cabem aqui algumas dicas já comprovadas que podem ajudar a quem está interessado no assunto:
desenvolver a auto-estima, a autoconfiança e a segurança pessoal;
desenvolver a empatia e ser capaz de perceber os seus próprios DIREITOS e o dos outros;
desenvolver a capacidade de argumentação e a habilidade de comunicação clara e objetiva;
desenvolver a coragem para correr riscos calculados;
ter conhecimentos mínimos necessários e opiniões próprias sobre os fatos.
Estas atitudes podem ser desenvolvidas através de modernas técnicas de treinamento, através de processos psicoterápicos e, em alguns casos, até de auto-ajuda (leituras, observações, autodeterminação, plano de ação pessoal).
É necessário, para isso, pensarmos nas diversas situações de nossa vida profissional e pessoal em que a falta de assertividade fez com que não conseguíssemos obter o resultado desejado, e não nos sentíssemos verdadeiramente realizados com nossas conquistas. Quantas vezes tivemos que “engolir” a raiva gerada pelo sentimento de que deveríamos ter dito algo que não dissemos naquela determinada hora? Quantas vezes nos vimos “obrigados” a fazer determinadas coisas por não termos tido a coragem de dizer não para o outro? Seriam inúmeros exemplos, mas o mais importante é que pensemos sobre o assunto e busquemos ser mais assertivos em algumas situações, para que possamos não só expandir a nossa inteligência emocional, mas, principalmente, desenvolvermos relações interpessoais, na vida pessoal e profissional, mais autênticas, harmoniosas e prazerosas.
Vale lembrar ainda que não podemos ser assertivos sem sermos empáticos, pois, como desenvolver a nossa própria assertividade se não formos capazes de aceitar a assertividade do outro? Não podemos achar que, quando se trata do outro, ele está simplesmente agressivo conosco, egoísta, ou qualquer outro termo que expresse a nossa incompetência para lidar com essa questão!
O profissional de RH tem hoje uma tripla responsabilidade em relação a esta competência: a primeira é ser “exemplo” e também exercitar sua assertividade em suas atividades e em seus relacionamentos profissionais, assumindo posições que o coloquem no “lugar estratégico” que deve ter hoje, na gestão dos negócios. A segunda é entender que a assertividade deve ser uma competência crítica para a maioria das funções, buscando valorizá-la nos processos seletivos e em sua caça de talentos e a terceira responsabilidade é incluir em seu plano de trabalho ações de desenvolvimento dessa competência, começando pelos gestores e líderes e depois expandindo para os diversos segmentos e cargos, possibilitando às pessoas a aquisição ou expansão da assertividade para que possam conquistar seu espaço profissional e social.
A importância dessa competência para determinada empresa dependerá da cultura organizacional vigente na mesma: Quais os seus valores e que atitudes a alta-administração adota e valoriza nas pessoas? Qual o grau de formalidade; qual o grau de confiança? Em que medida existe liberdade de expressão? A empresa busca apenas seguidores ou quer gente que pense, discorde, questione, sugira, contribua e inove?
Cabe ainda uma reflexão pessoal: Com que tipo de pessoas prefiro me relacionar e trabalhar? E em que tipo de empresa?
* Denize Dutra é consultora do grupo MVC.

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